Título: Nova refinaria da Petrobras e PDVSA será no Nordeste
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Brasil, p. A5

A construção de uma refinaria de petróleo por meio de uma inédita associação entre a Petróleos de Venezuela (PDVSA) e a Petrobras será feita em Pernambuco, informou ontem ao Valor o presidente da Refinaria do Nordeste (Renor), Gilberto Prado, escolhido pela PDVSA como sócio minoritário no projeto, para assessorar a empresa venezuelana na construção da nova fábrica. O projeto representará um investimento de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões, deverá começar em seis a oito meses, e poderá entrar em operação por volta de 2010, com importações de cerca de US$ 1 bilhão, anualmente, em petróleo venezuelano. Prado calcula que a Renor terá entre 5% a 10% da nova empresa. A ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, que faz parte da comitiva brasileira na Venezuela, mencionou ontem, segundo agências de notícias, que o investimento seria no Estado de Pernambuco. Mas algumas horas mais tarde, a assessoria do ministério soltou uma nota para dizer que a decisão sobre a localização ainda não havia sido tomada. Embora o governo evite confirmar a localização da futura refinaria, Prado garante que a intenção das companhias é instalar o empreendimento no Porto de Suape, devido à sua "extraordinária logística", para abastecimento de derivados de petróleo, como a nafta e o diesel na região Nordeste. Embora o Ceará também apresente vantagens logísticas, a escolha de Pernambuco é unanimidade entre os dirigentes da PDVSA, que argumentam que o Estado está mais próximo dos grandes centros consumidores. É mais simples transportar o petróleo bruto em distâncias mais longas até o local de refino por um só modal de transporte (navio), do que montar um custoso sistema de distribuição dos derivados de petróleo a centros consumidores distantes, lembra um alto executivo de uma das estatais envolvidas no projeto. A refinaria é o projeto de maior repercussão entre os 11 acordos firmados ontem entre a Petrobras e a PDVSA, entre eles o de construção de uma fábrica de lubrificantes em Havana, com a participação da empresa cubana de petróleo, Cupete. A associação com a PDVSA e a Petrobras, na avaliação do governo, contribuirá para superar o impasse político que provocou uma disputa entre onze Estados que lutavam pelo investimento. A refinaria terá o nome de um pernambucano famoso na Venezuela, o general José Inácio Abreu e Lima, braço-direito de Simón Bolívar, o herói do país de Hugo Chávez. O aumento na compra do petróleo venezuelano ajudará a reduzir o déficit em seu comércio com o Brasil, que vende cerca de US$ 1,46 bilhão em produtos como automóveis, celulares, carnes e colheitadeiras aos venezuelanos e compra do vizinho menos de US$ 200 milhões, em derivados de petróleo, sardinhas e semi-elaborados, como resíduos de alumínio. No discurso de saudação aos empresários dos dois países, que realizaram um encontro paralelo à reunião dos dois presidentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a decisão da Braskem de associar-se à PDVSA para a ampliação do um pólo petroquímico que a empresa mantém no país. A Petrobras e a empresa venezuelana firmaram, também, contratos para intercâmbio tecnológico, associação no transporte marítimo de petróleo, estudos para construção de uma fábrica de fertilizantes e cooperação logística para o uso do etanol na gasolina. A cooperação para o uso de etanol na Venezuela mereceu uma longa menção no discurso de saudação do presidente Hugo Chávez, na abertura do encontro dos empresários dos dois países, paralela à reunião presidencial. "Precisaremos de 30 mil toneladas de etanol, só para o consumo interno de gasolina", comentou Chávez, ao lembrar que, hoje, a Venezuela adiciona chumbo tetraetila, mais poluente, ao combustível. "Esse aditivo não vem do Brasil, mas geralmente do Norte", discursou Chávez. Ele apresentou a opção pelo etanol como exemplo da tentativa venezuelana de buscar maior relacionamento comercial e econômico com países em desenvolvimento.