Título: PSDB e PFL discutem formação de bloco de oposição
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Política, p. A7

A sucessão nas presidências do Congresso foi utilizada, pela oposição, como palco para medir forças com o governo. PSDB e PFL cogitaram formar um bloco parlamentar na Câmara, que resultaria num grupo de 116 deputados, ou seja, a maior força política da Casa. Os presidentes dos dois partidos, os senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Jorge Bornhausen (PFL-SC) - que está licenciado - reuniram-se ontem para analisar a idéia. "Os dois partidos têm atuado em conjunto e fizemos alianças eleitorais importantes em São Paulo e Rio de Janeiro", analisou Azeredo. A decisão só seria oficializada até a meia noite de ontem, e havia parlamentares da oposição contrários ou desacreditados com a formação do grupo. Mesmo que o bloco não seja formalizado, a união oposicionista é uma estratégia que está sendo incentivada e monitorada de perto pelas cúpulas dos dois partidos, especialmente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O governo reagiu com apreensão à articulação dos dois maiores partidos da oposição. Para não perder a hegemonia, o PT passou o dia de ontem em busca de diálogo com a oposição. Traçou também um plano estratégico. O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), convocou os líderes aliados para uma reunião no início da tarde. Propôs ao PSB, PCdoB, PV, PPS e PDT que se unissem ao PT, em bloco, para neutralizar o poder do grupo oposicionista. Houve resistências entre os aliados, pois esses partidos, juntos, já estavam articulando, sem o PT, a criação de um outro bloco parlamentar, com 65 parlamentares. Aliás, foi essa a razão da ira oposicionista, pois a criação desse bloco governista superaria, numericamente, as duas bancadas da oposição. "Se o PT não fizer bloco até perto da meia noite, poderemos aproveitar e fazer o bloco para conseguir mais espaço político e melhores comissões", dizia, ontem, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). É com base no tamanho das bancadas que os partidos podem indicar as presidências das comissões temáticas. Isso começa a ser feito a partir de hoje. Para as escolhas de comissões, serão considerados os tamanhos das bancadas até a meia noite de ontem. Para o governo, o controle da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) é fundamental. É a partir da CCJ que todos os projetos de lei começam a tramitar. O sinal vermelho acendeu no PT devido ao inchaço no PMDB. Até o fechamento desta edição, os dois partidos tinham praticamente o mesmo número de deputados: 90 petistas e 89 pemedebistas. Ao longo do dia, os aliados tinham dúvidas sobre a formação de todos os blocos. "Estamos aguardando uma definição do PDT", informou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES). O PT, por precaução, deixou pronto um documento com assinatura de todos os deputados do partido e do PCdoB, para a criação de um grupo emergencial, que garantiria pelo menos a segunda posição partidária na Casa. O líder do PSDB na Câmara, Custódio Mattos (PSDB-MG), reiterou que sempre existiu afinidade entre os dois partidos, mas não confirmou a criação do bloco. "Descartar uma aliança como essa não é correto, pois se trata de uma aliança natural da oposição. No entanto, é algo que ainda não estamos pensando", afirmou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). (MLD e HGB)