Título: PMDB pode ficar com o maior número de deputados
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Política, p. A7

As trocas de legendas entre os deputados devem praticamente cessar hoje, já que ontem foi o último dia para a definição do tamanho das bancadas que irá nortear a divisão das comissões da Câmara entre os partidos. A exceção é o movimento de entrada no PMDB. O partido está crescendo pela luta de poder interna, e não pela disputa por espaço com as demais siglas na Câmara. A onda de filiações só terminará quando se definir quem será o líder da bancada de deputados do partido. Por enquanto, a balança ainda pende para os oposicionistas. A disputa entre governistas e oposicionistas pelo comando do PMDB transformou ontem o partido na maior legenda da Câmara, graças ao ingresso de dezesseis deputados em catorze dias, e pode fazer com que a disputa pela liderança da bancada vire uma nova batalha regimental. Até às 20h de ontem, o partido tinha 91 deputados, um a mais do que o PT. Esse número, entretanto, ainda não era oficial, pois a última atualização feita pela Câmara, às 17h ainda dava ao PMDB 89 deputados, um a menos do que o PT. Dos novos filiados, oito são governistas, e oito, oposicionistas.

Interessado em substituir o governista José Borba (PR) pelo oposicionista Saraiva Felipe (MG) na liderança do partido, o presidente nacional da sigla, Michel Temer (SP), tenta interromper o fluxo de filiações que pode beneficiar o paranaense antecipando a definição da bancada para hoje, à revelia do líder. A escolha ontem do oposicionista Waldemir Moka (MS) por 54 votos a 31 do governista Henrique Alves (RN) na disputa pela indicação partidária para a primeira-secretaria da Câmara foi um sinal de que o ingresso de novos filiados ainda não colocou os governistas em vantagem. Animado, Temer tentou marcar para hoje uma reunião da bancada para destituir ou reeleger Borba. Como o paranaense prefere fazer a reunião dentro de alguns dias, quando imagina que as novas filiações irão virar o jogo dentro da sigla, Temer pretende encaminhar ainda hoje uma lista com a assinatura da maioria dos deputados para a nova mesa diretora da Casa, comunicando que o novo líder do partido será Saraiva Felipe. O PMDB foi o responsável por quatro em cada cinco das 20 mudanças de partido que ocorreram este mês na Câmara. Ainda ontem, entrou no partido o amazonense Lupércio Ramos, extremamente ligado ao governador do Estado, Eduardo Braga, por enquanto no PPS, mas cuja filiação no partido é provável. O crescimento súbito da sigla poderá dar ao partido o comando da poderosa Comissão de Constituição e Justiça da casa, hoje controlada pelo PT, mas diminuiu ainda mais a capacidade pemedebista de atuação coordenada. Recém filiado ao partido, o pernambucano Inocêncio Oliveira já é um dissidente. Decidiu desafiar o correligionário Moka e concorrer como candidato avulso à primeira-secretaria da Casa. Nos outros partidos, o PDT recebeu a filiação de João Fortes (SE) e Jurandir Boia (AL) e o PV voltou a contar com o deputado Fernando Gabeira. No Senado, as mudanças de partido às vésperas do começo da Legislatura foram discretas. Ontem, comunicaram a troca de sigla os senadores Mozarildo Cavalcanti (RR) e Geraldo Mesquita Filho (AC). Saíram do PPS e do PSB para, respectivamente, o PTB e o PDT.