Título: Bancos vêem crescimento do risco para países da AL
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2008, Especial, p. A12

O Brasil e seus vizinhos na América Latina resistiram muito bem aos tremores que chacoalharam os mercados financeiros nos últimos meses, mas os governos da região deveriam prestar mais atenção nos riscos que uma rápida deterioração do cenário internacional traria para a estabilidade de suas economias.

A advertência foi feita ontem pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), uma organização que representa os maiores bancos do mundo. Na avaliação dos banqueiros, os riscos que ameaçam a América Latina aumentaram nas últimas semanas com a crise nos Estados Unidos e a instabilidade nos mercados de crédito.

Um relatório distribuído ontem pelo IIF durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) prevê que a região crescerá 4,4% neste ano e 4,1% no próximo, num ritmo mais moderado que o observado nos últimos anos mas ainda assim mais acelerado que o dos países avançados. No Brasil, o IIF prevê um crescimento de 4,6% neste ano e de 4,3% em 2009.

Dois problemas preocupam os banqueiros particularmente: o acelerado crescimento das despesas públicas na região e a erosão dos formidáveis superávits comerciais que o Brasil e seus vizinhos acumularam nos últimos anos. Para o IIF, as fragilidades existentes nessas duas áreas reduzem a capacidade que a região terá de enfrentar um agravamento do cenário externo.

Além disso, as pressões inflacionárias geradas pela alta dos alimentos e das matérias-primas devem inibir a capacidade dos bancos centrais de usar os juros para evitar uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica. "Será um desafio para esses países atingir taxas de crescimento otimistas como as que previmos", disse o primeiro vice-presidente do IIF e vice-presidente sênior do Citigroup, William Rhodes, ao apresentar as projeções.

O relatório lembra que países como o México, que destinam para o mercado americano a maior parte das suas exportações, tendem a ser mais afetados pela crise americana do que países como o Brasil, que têm acesso a mercados mais diversificados. Mas a idéia de que os países emergentes conseguirão se descolar completamente das dificuldades nos países avançados é "equivocada", segundo Rhodes.

Apesar do freio na atividade econômica e dos riscos de que a situação piore, os banqueiros prevêem que o fluxo de capital externo para a região continuará expressivo neste ano, chegando a US$ 129 bilhões e igualando a marca do ano passado.

Com juros em queda nos EUA e sinais de que os BCs precisarão voltar a apertar a política monetária para conter a inflação no Brasil e na vizinhança, a América Latina continuará oferecendo rendimentos atrativos, na avaliação do IIF. "Muitos investidores que têm procurado diversificar suas aplicações continuam encontrando boas oportunidades na região", disse o diretor-gerente do IIF, Charles Dallara.

O relatório dos banqueiros faz os elogios de costume aos progressos que a maioria dos países da região fizeram na gestão de suas economias nos últimos anos, mas chama atenção para a ausência de reformas mais profundas para atrair investimentos na área de infra-estrutura, eliminar distorções e arrumar as contas públicas. "Não está claro que a região tenha feito progresso suficiente para sustentar um crescimento acelerado no longo prazo", afirma o relatório.

Na avaliação dos banqueiros, a questão fiscal é especialmente preocupante porque a maioria dos países da região preferiu gastar os recursos acumulados com as condições favoráveis dos últimos anos, em vez de poupá-los. Segundo o relatório do IIF, isso "torna difícil reduzir os gastos públicos no grau necessário para manter o equilíbrio fiscal na eventualidade de uma desaceleração mais forte da atividade econômica ou um declínio acentuado das exportações".