Título: Refino de petróleo pesado atrai capital
Autor: King Jr., Neil
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2008, Empresas, p. B9

As petrolíferas têm ido mais longe e mais fundo para encontrar o próximo barril de petróleo. Mas o combustível que elas têm extraído é cada vez mais viscoso, ácido ou com alto teor de enxofre.

É por isso que duas das maiores petrolíferas do mundo - a estatal Saudi Arabian Oil Co., conhecida como Saudi Aramco, e a Royal Dutch Shell PLC - começaram a gastar nesta localidade do Texas um total previsto de US$ 7 bilhões no mais ambicioso projeto de refino dos Estados Unidos em mais de 30 anos.

A duplicação da capacidade da antiga refinaria Motiva, cujas raízes remontam ao início do século passado, vai transformá-la na maior dos EUA. Mas o plano maior é fazer da refinaria de Port Arthur, que fica na costa do Golfo do México, a melhor equipada do país para digerir o petróleo mais difícil - o tipo pesado, com alto teor de enxofre, que é negociado a um preço mais baixo do que o tipo leve doce que colocou o Texas no mapa do setor.

"O negócio aqui são os petróleos mais difíceis", diz Forrest Lauher, um engenheiro de Motiva encarregado de um projeto de expansão que vai cravar 50.000 colunas de concreto no solo pantanoso daqui e consumir mais de 27.000 toneladas de aço estrutural e 720 km de tubos. A refinaria, hoje com capacidade para cerca de 275.000 barris de petróleo por dia, vai crescer para 600.000 barris por dia em 2010.

Da Ásia aos EUA, as refinarias estão se preparando para os fluxos cada vez maiores de petróleo mais pesado ou mais ácido do Oriente Médio, Sudão, Brasil, Canadá e Venezuela. Parte da lógica é meramente econômica. O petróleo mais fácil de refinar, como o West Texas Intermediate, é negociado a mais de US$ 105 por barril. O tipo mais pesado tem descontos significativos. Nos últimos meses, o barril do petróleo pesado do Canadá era vendido por até US$ 20 menos do que o West Texas Intermediate.

O projeto de Port Arthur também reflete uma realidade de mais longo prazo, à medida que os produtores, muitos deles excluídos das regiões mais ricas em petróleo, como o Iraque, avançam na busca dos bolsões menos desejáveis da commodity. Tipos de petróleo mais pesado correspondem agora a cerca de um quarto das ofertas mundiais, mas alguns analistas estimam que podem passar a mais de metade em 2030, As refinarias precisam estar preparadas para transformar esse petróleo em gasolina, diesel e querosene de aviação.

A Shell, que possui metade da Motiva, junto com a Aramco, está investindo agora em projetos de petróleo pesado em regiões como América do Sul e Canadá, onde ela alega ter 20 bilhões de barris em reservas do combustível pesado.

Mas a expansão é mais importante estrategicamente para a Aramco. Em três anos, a estatal saudita planeja abrir a torneira do que pode ser o último reservatório gigante de petróleo da Arábia Saudita: o campo Manifa, que vai da costa leste do reino até o Golfo Pérsico. O campo, descoberto primeiro em 1957 mas depois fechado, deve produzir 900.000 barris por dia de petróleo pesado.

Com Port Arthur, a Aramco está procurando transformar uma potencial fraqueza numa vantagem comercial, ao assegurar que seus embarques de petróleo mais pesado tenham um mercado garantido.