Título: Cultivando bananas com boa reputação
Autor: Sara Silver
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Empresas &, p. B2

AChiquita Brands International, companhia americana no setor de fruticultura que produz 25% das bananas cultivadas em todo o mundo, tem uma das mais incomuns estratégias de responsabilidade empresarial. Enquanto outras empresas divulgam seus próprios sucessos, a Chiquita, com sede em Cincinnati, delega essa tarefa a uma organização não-governamental (ONG): a Rainforest Alliance. Investidores em busca de informações ambientais em Sustaining Success - seu mais recente relatório publicado na internet - são direcionados a uma "declaração de certificação" da ONG, que vem atribuindo uma denominada "certificação verde" das 115 fazendas da companhia na América Latina há mais de uma década. "Algumas das fazendas da Chiquita na Colômbia e na Costa Rica não apresentaram os progressos que esperávamos, e três fazendas em Honduras perderam sua certificação depois que uma auditagem descobriu duas importantes desconformidades", escreve Tensie Whelan, diretor da Rainforest Alliance, um grupo conservacionista de Nova York dedicado à proteção de ecossistemas mediante melhores práticas empresariais. "Essas condições foram corrigidas e as fazendas voltaram a receber sua certificação antes do fim do ano". Essas críticas são um sinal de que a colaboração da Chiquita com a ONG ambientalista são notáveis - especialmente tendo em vista a história da companhia. Nascida da United Fruit Company - que durante anos influenciou a política na América Central, dando origem ao termo "repúblicas de bananas" - a Chiquita deu uma guinada de 180 graus em suas políticas empresariais. Patricia Scharlin e Gary Taylor, autores de um livro "Smart Alliance: How a Global Corporation and Environmental Activists Transformed a Tarnished Brand" sobre a mudança de rumo da Chiquita, diz ter ocorrido uma "transformação espetacular". Mas é uma questão em aberto se a Chiquita - cujo característico selo oval exibe uma mulher carregando um cesto de frutas em sua cabeça - ampliará sua lucratividade em virtude de assumir uma atitude ética. "É de se supor que qualquer investidor interessado em fluxos de caixa saudáveis futuros iria interessar-se por responsabilidade social, expresso em termos da capacidade da companhia de atender às necessidades de longo prazo de seus consumidores", diz Jeff Zalla, executivo de responsabilidade empresarial e tesoureiro da Chiquita.

Hoje, 79% dos fornecedores são certificados pela ONG

Há sinais de que a transformação da companhia está, agora, dando lucros. Os US$ 20 milhões gastos para adequar suas atividades agrícolas aos padrões da Rainforest Alliance já mais que cobriu os investimentos, na forma de cortes de custos - US$ 5 milhões anuais, devido aos menores gastos em pesticidas, e US$ 3 milhões anuais devido à reciclagem de paletes de madeira usados para transportar os frutos. Além disso, o perfil mais baixo de risco da companhia permitiu que ela refinanciasse parte de sua dívida, o que lhe permite poupar US$ 7 milhões em pagamentos anuais de juros. Até agora, não há planos de marketing baseados em sua transformação. "Nossa filosofia tem sido de conquistar credibilidade e confiança, em vez de proclamá-las nós mesmos", diz Michael Mitchell, diretor de comunicações da Chiquita. Entretanto, a companhia está consciente desse potencial, e está analisando maneiras de capitalizar suas credenciais ambientalistas. No setor mundial de supermercados, as bananas respondem por mais vendas - e contribuem mais para as margens de lucro - do que qualquer outro produto. Quer seja ou não proveitoso, em termos de lucratividade, a Chiquita está levando à frente sua "agenda verde", incentivando seus fornecedores independentes a obter suas certificações. Atualmente, 79% das compras de bananas da Chiquita junto a plantadores independentes são certificadas pela Rainforest Alliance - contra apenas 33% dois anos atrás. Também não há possibilidade de volta atrás para a Rainforest Alliance. Ela vem recebendo críticas de outras ONGs, segundo as quais a Rainforest Alliance foi cooptada, por permitir que a Chiquita empregue pesticidas e certifique práticas trabalhistas, embora não tenha competência para fazê-lo. Mas a parceria não se deteve diante das críticas, e está avançando das bananas para o café - firmando um acordo similar com a Kraft Foods. Whelan, o diretor da Alliance, é claro sobre a conquista central da parceria com a Chiquita: "Ela mostra o custo real para as pessoas e os recursos ambientais que entram em algo tão simples quanto uma banana".