Título: Alimentos e insumos pressionam no atacado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2008, Brasil, p. A3

Para Salomão Quadros, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), meta de 4,5% depende de alta de alimentos abaixo de 7% O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou alta de 0,7% em março, acima da variação apurada em fevereiro (de 0,38%) e 0,04 ponto percentual abaixo da medição imediatamente anterior (do IGP-M, que mede a inflação no intervalo de 30 dias até o dia 20). Diferente do que se previa no início do ano, os preços de alimentos ainda não deram trégua no varejo e, no atacado, os preços de produtos industriais e agrícolas mantêm trajetória ascendente, elevando as preocupações relativas ao cumprimento da meta inflacionária para o ano de 4,5%.

O Índice de Preços por Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP-DI, subiu 0,8% em função da valorização nos preços de produtos industriais, que se elevaram 0,06 ponto percentual desde a leitura do dia 20, para 0,94%, fruto do reajuste nos preços do minério de ferro e seu repasse a produtos da mineração ao longo do mês. No acumulado de 12 meses, o IPA-DI acumula alta de 11,39% (ante 10,62% em fevereiro), o maior apurado desde abril de 2005.

Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro Real, observou que a alta do IPA foi determinada pelos reajustes nos preços de metalurgia. Segundo cálculos da economista, excluindo esse item, o núcleo sai de 0,58% para uma alta de 0,42%. "É uma alta novamente localizada em um item específico e que deve recuar novamente já em abril. Acredito que março tenha sido o mês de pico", afirmou.

Luís Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados, também acredita em desaceleração de preços, mas talvez apenas no segundo semestre. Em abril, para ele, reajustes em preços de petróleo e derivados e alta das commodities agrícolas ainda exercerão pressão sobre os custos industriais no mercado interno.

No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) também registrou aceleração, saindo de variação zero em fevereiro para 0,45% no IGP-DI de março. O indicador também ficou acima da variação do IGP-M, de 0,19%. Para economistas, além dos preços industriais, que ainda não deram sinais de desaceleração, preocupa a evolução dos preços de produtos agrícolas e de alimentos, que sofrem os efeitos da alta de commodities no mercado internacional.

O pão francês, por exemplo, subiu no varejo 2,69% em março, a maior alta registrada desde dezembro de 2002, período em que a economia brasileira sofria os efeitos da crise externa de confiança causada pela sucessão presidencial. A alta, observou Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é resultado do aumento de 13,38% nos preços do trigo em março. Em 12 meses, o item acumula valorização de 45,69%, por conta do reajuste de preços no mercado internacional - hoje, 63,5% do trigo consumido no país é importado.

"A expectativa era de que alimentos teriam um aumento menor neste ano, e é provável que isso ocorra, mas não dá para saber onde eles vão estacionar", afirmou Quadros. No mês, o item alimentação saiu de uma deflação de 0,38% para uma alta de 0,62%. No ano, o item acumula variação positiva de 2,34% e, em 12 meses, de 8,63%. De acordo com o economista, os preços de alimentos - que em 2007 subiram 10,28 % e responderam por metade do IPC - têm de se manter entre 6% e 7% para garantir um IPCA entre 4,5% e 4,7% no ano. "Os preços agrícolas devem continuar sendo motivo de preocupações para a inflação neste ano, só que agora não é mais um fator isolado, como foi em 2007."

No IPC, cinco das sete classes de despesa apresentaram aceleração, sendo que as maiores contribuições vieram de alimentos e habitação, que passou de 0,09% para 0,47%, alta influenciada pelos reajustes na tarifa de eletricidade residencial (de 1,11% no mês) e na taxa de água e esgoto (de 0,92%).

Raphael Castro, da LCA Consultores, ponderou que a pressão de alta em preços administrados será diluída nos próximos meses, e apontou como suavizador a decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de aprovar redução nas tarifas de energia em Mato Grosso (de 8,08%), Mato Grosso do Sul (7,18%) e Minas Gerais (12,24%). "A preocupação incide sobre os tradeables [produtos passíveis de comercialização no mercado internacional]", afirmou.

O economista observou que o câmbio, que no ano passado teve um efeito suavizador da inflação de 1,1 ponto percentual, não deverá registrar uma valorização semelhante neste ano e, por isso, as importações, que até o momento contribuíram para conter a inflação não terão o mesmo efeito benéfico ao longo do ano.

Para Castro, o segundo trimestre será ainda marcado por valorizações nos preços do aço e de produtos da metalurgia, embora em menor escala. "Os preços de fertilizantes também devem continuar pressionando o IPA industrial, registrando desaceleração só a partir de junho", disse.