Título: Eficiência limitada dificulta embarque
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2005, Agronegócios, p. B9

Não importa qual o resultado das exportações de milho este ano, o Brasil ainda deverá continuar por muito tempo refém da combinação "preço externo em alta e dólar valorizado" para ser competitivo no mercado internacional do grão. São esses dois fatores que têm garantido a participação do milho brasileiro no mercado externo nos últimos cinco anos. Não fosse assim, o produto ficaria sem alternativa e continuaria sujeito à baixa liquidez do mercado doméstico. E isso porque a maior fragilidade do milho brasileiro continua sendo a baixa produtividade em relação à de seus concorrentes, o que tira a competitividade do país na hora de ganhar novas fronteiras. A comparação com os Estados Unidos, neste caso, até parece covardia. A produtividade média naquele país, que produziu 299,9 milhões de toneladas, é de 10,6 mil quilos por hectare, informa Paulo Molinari, da Safras & Mercado. No Brasil, o rendimento médio previsto para 2004/05 é de 3,43 mil quilos por hectare, numa produção total de 43,1 milhões de toneladas, segundo a Conab. A Argentina, outro concorrente do Brasil, tem produtividade média de 6,3 mil quilos por hectare, também conforme Molinari, e deve produzir 17 milhões de toneladas em 2004/05. Vários fatores distanciam a produtividade brasileira no milho da de seus concorrentes. O analista Molinari dá alguns exemplos: no Brasil, o milho é largamente plantado por pequenos produtores que utilizam baixa tecnologia. Isto é, investem pouco em sementes de alta produtividade e em adubação. Casos típicos como esse estão no Nordeste do país, onde a produtividade média estimada para esta safra é de 992 quilos por hectare, segundo a Conab. No Sul, onde há regiões com rendimento médio entre 7 mil e 8 mil quilos por hectare, a produtividade média prevista para este ciclo é de 4,39 mil quilos por hectare. Molinari acrescenta que a produção na safrinha brasileira - em um período de alto risco climático - ajuda a derrubar a produtividade média nacional. Nos EUA, a situação é contrastante. O país produz os principais híbridos de milho e tem o relevo - no Meio-Oeste - favorável ao cultivo do produto, observa Molinari. "O produtor americano é um produtor de milho. A soja é o segundo cultivo. Aqui, milho é para rotação de culturas", afirma o analista. Ele diz, ainda, que nos Estados Unidos o produtor investe em milho e sabe que terá resultados: o país exporta cerca de 50 milhões de toneladas (mais do que a produção brasileira) e consome quase 250 milhões de toneladas. Aqui, enquanto isso, a comercialização de milho é invariavelmente marcada por altos e baixos. Os custos no Brasil também pesam mais que nos concorrentes, observa Molinari. Na vizinha Argentina, que deve exportar 13 milhões de toneladas de milho em 2004/05, os custos logísticos são menores. São justamente esses custos que fazem com que algumas regiões do Brasil sejam mais competitivas que outras na hora de exportar milho. Dessa forma, estar próximo de regiões portuárias torna-se fundamental para se embrenhar no mercado externo. Os custos argentinos com insumos também são inferiores, em parte, devido ao plantio de milho transgênico, diz Molinari. Nesse ponto , é preciso lembrar, porém, que não ter transgênicos foi um dos fatores que favoreceu as exportações brasileiras de milho, já que alguns países preferem o produto convencional. (AAR)