Título: Novas apostas no crédito imobiliário
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2008, Finanças, p. C1

O ano passado foi marcado pela explosão do crédito imobiliário, cujas concessões praticamente dobraram em relação ao ano anterior, superando a casa dos R$ 18 bilhões. O avanço, que se iniciou há cerca de três anos, trouxe junto uma série de novos atores que estavam fora do jogo: os grandes bancos voltaram a investir no setor e novas instituições entraram, desde pequenos, como BM Sua Casa, Matone e Morada, como os grandes Banco do Brasil e Banco Votorantim.

Por enquanto o volume de crédito não sofreu muita variação por conta dessas novas operações, mas a perspectiva é de crescimento. Somente o Banco do Brasil espera destinar R$ 10 bilhões até 2011. A BM Sua Casa espera acrescentar mais R$ 800 milhões por meio de operações securitizadas e o Matone, cerca de R$ 700 milhões neste ano.

Os primeiros resultados positivos dessas novas empreitadas começam a aparecer. O Banco do Brasil, que para não concorrer diretamente com a Caixa Econômica Federal sempre focou o crédito rural, prepara agora entrada na habitação. "É estratégico ter esse negócio. O banco não pode prescindir de ter no portfólio o credito imobiliário que permite uma parceria de 20 anos com o cliente", afirma Luiz Gustavo Braz Laje, diretor de credito do banco.

Mesmo operando apenas com recursos livres, o banco elevou a carteira para pessoas jurídica (financiamento de construtoras) em 46,5% no ano passado, pulando de R$ 2,8 bilhão para R$ 4,1 bilhões. A instituição iniciou também um projeto piloto em São Paulo, para oferta de linhas para um público de renda mais alta.

Dados preliminares da operação para pessoas físicas, que atende prioritariamente imóveis acima de R$ 350 mil, apontam mais de mil propostas em um mês e meio, com valor médio de financiamento na casa dos R$ 160 mil. Com a aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para uso de recursos da poupança, a estimativa é que o banco feche o ano com cerca de R$ 2,35 bilhões.

Outro grande que entrou recentemente no setor foi o Banco Votorantim, mas apenas no segmento de incorporação. Silvio Frugoli, diretor comercial da instituição, afirma que a operação faz parte da estratégia de estar presente no setor de construção por entender que será "o carro-chefe da economia".

Frugoli explica que o banco já tem um nível de especialização no setor, mas a oportunidade é recente. "O país vive momento ímpar na construção. Hoje, o banco atua de forma mais organizada, buscando soluções adequadas e investe na área há um ano e alguns meses, desenvolvendo especialistas e a área comercial".

Recentemente, o banco fechou uma operação com o grupo WTorre, de R$ 165 milhões. O banco também estuda "financiar o usuário final", por meio da BV Financeira, empresa do grupo, "mas ainda não tem posição" definida.

Entre os banco menores, o destaque até agora tem sido o crédito pessoal com uso do imóvel como garantia. O modelo é semelhante ao usado em outros países (home equity), em que o cliente aliena o imóvel em nome do banco e pega empréstimos de até 50% do valor do bem. "Esse é o nosso carro-chefe", afirma Elyseu Mardegan, diretor da BM Sua Casa.

A Brazilian Finance e Real Estate (BFRE), do grupo Ourinvest, iniciou no ano passado a operação da BM Sua Casa, para financiamento imobiliário. "Em 2006, analisamos com bastante profundidade o mercado, que nem se mostrava tão promissor quanto hoje, e identificamos uma demanda muito grande de moradia, em particular de classe média e média baixa", diz Mardegan.

Outra novidade do ano passado foi a entrada dos grandes bancos no financiamento de baixa renda via repasse do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O nicho, que nos últimos anos ficou restrito aos bancos públicos, voltou a se tornar atrativo com o crescimento da massa salarial da população e da oferta de produtos específicos para o segmento pelas construtoras.

Os bancos solicitaram R$ 3 bilhões, do total de R$ 8 bilhões reservados no orçamento do fundo. O Banco Real, que pediu R$ 350 milhões já pensa, inclusive, em ampliar a oferta. "Estamos no começo, fechamos operações e estamos no período de espera, já que o desembolso se dá no momento do repasse. Mas devo solicitar ao fundo um incremento de recursos", afirma Antônio Barbosa, diretor de crédito imobiliário do banco.

No Itaú, que solicitou o maior volume, R$ 1 bilhão, as operações já começaram, segundo Luiz Antônio França, diretor de crédito do banco. Os negócios têm sido fechados, por enquanto, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.