Título: Crédito é difícil para pequeno fornecedor
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Fonte: Valor Econômico, 08/04/2008, Empresas, p. B6

Para poder acompanhar o atual ritmo de crescimento da produção de veículos, as pequenas empresas de autopeças querem o respaldo das montadoras ou dos fornecedores maiores para negociar linhas de financiamento com o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos.

Toda a cadeia da indústria automobilística precisa investir em expansão da produção. Mas a empresa que tem dívidas do passado com o Fisco não consegue empréstimos bancários. A falta de certidões negativas de débitos inibem o crédito.

O problema atinge principalmente as fabricantes de peças que, embora pequenos, são importantes, porque muitas vezes a cadeia produtiva depende deles para funcionar corretamente.

"Se um fornecedor sem crédito no mercado for importante para determinada montadora, ela própria poderá se comprometer com o banco a pagar o financiamento feito pelo fornecedor por meio do dinheiro que pagaria a ele pelas peças fornecidas", explica Paulo Butori, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças). O dirigente lembra que o endividamento com impostos vem, em boa parte, dos tempos dos planos econômicos mal-sucedidos.

A questão veio à tona ontem, durante um simpósio promovido pela Sociedade de Engenheiros Automotivo (SAE), em São Paulo. Aproveitando um painel com a presença do assistente da diretoria do BNDES, Carlos Gastaldoni, um participante questionou o representante da instituição sobre as dificuldades que as empresas de menor porte enfrentam para conseguir financiamento com taxas tão atraentes quanto às que oferecidas às montadoras.

Enquanto alguns podem investir mais do que outros para acompanhar o aumento do ritmo das linhas de montagem, o setor de autopeças prepara um novo mapeamento dos gargalos. No final da semana passada, o Sindipeças enviou para os mais de 500 associados um longo questionário preparado por uma consultoria. O objetivo é detectar onde o fluxo de suprimento pode emperrar por falta de capacidade produtiva. A entidade acompanha periodicamente os gargalos na produção desde 2004.

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Durante o simpósio de ontem, os representes dos fabricantes de caminhões Volkswagen e Ford começaram a se queixar da falta de pneus. Os fornecedores de peças se defenderam. Butori disse que o segmento de pneus é um caso isolado, no qual "os produtores desviam o foco de interesse para o mercado de reposição, quando as montadoras rejeitam reajustes de preços". E sustentou que não há falta de peças. Mas o presidente do grupo Schaffler, fabricante de componentes como rolamentos, diz estar preocupado com o fato de as vendas de aço já começaram a ser feitas por meio de sistema de cotas.

O velho impasse entre montadoras e fornecedores nas negociações de preços também voltou à discussão, porque o setor sente pressão por conta de recentes reajustes nos preços do aço.

Os representantes da indústria de autopeças também estão ansiosos em relação a medidas que o governo federal pode anunciar a partir de sugestões encaminhadas pelo próprio setor para elevar a competitividade, principalmente nas exportações. Butori calcula que isso poderá acontecer daqui a duas semanas. "Espero que daqui a 15 dias o governo anuncie a política industrial que estamos esperando há 15 anos", disse.

Se as expectativas do setor estiverem corretas, poderão ser anunciadas também medidas para estimular ainda mais a demanda doméstica. Hoje, a explosão de vendas é resultado do crédito farto. Mas os dirigentes do setor automotivo argumentam que ainda falta no país uma política de crescimento sustentável.

O ritmo de produção da industria automobilística já está quase 50% acima dos níveis de uma década atrás, quando foi atingido um pico que não se sustentou nos anos subseqüentes. A indústria só retomou o fôlego de 1997 no ano passado, graças ao crescimento do mercado interno, impulsionado pela expansão do crédito.

A indústria espera chegar a uma produção de 3,3 milhões de veículos este ano. Os fabricantes de autopeças acreditam que, sustentada em um cenário econômico favorável aos investimentos, a produção de veículos no Brasil em 2012 poderá alcançar 5 milhões de unidades.