Título: Lula culpa oposição e imprensa por dossiê
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Fonte: Valor Econômico, 09/04/2008, Política, p. A4

A oposição e a imprensa foram os principais alvos das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com a bancada de senadores do PDT, no fim da manhã de ontem, no Palácio do Planalto. Lula disse que a "imprensa está com a tese do dossiê e não quer reconhecer o contrário". Ele defendeu a tese de que, na verdade, há um banco de dados na Casa Civil que será colocado à disposição assim que a CPMI pedir. "Fazer um banco de dados não é crime. Ilícito é divulgar dados sigilosos dos presidentes da República", disse Lula, assegurando que a Polícia Federal e a Comissão de Sindicância encontrarão os responsáveis pelo vazamento.

Lula também atacou a oposição, horas antes de o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) confirmar a criação de uma CPI apenas do Senado para investigar o uso dos cartões corporativos. O presidente lembrou que, por pressão do PSDB e do DEM, a base aliada concordou em fazer uma CPI Mista. Depois, mais uma vez, os governistas cederam às reclamações de tucanos e democratas e compartilharam a direção da comissão - a presidência é da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS). "Lula acha que a oposição está sem rumo", definiu o senador Osmar Dias (PDT-PR).

"A CPI Mista já não tem andado. Não faria sentido criar uma segunda comissão", declarou o presidente, segundo relato do líder da bancada, senador Jefferson Péres (PDT-AM). Essas queixas contra a oposição já haviam sido feitas na reunião com os líderes governistas, na noite de segunda. Ontem, o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, ligou para senadores da oposição tentando demovê-los da idéia de instalar uma nova CPI. "Eles me disseram: estamos perdendo todas as votações. Mas é do jogo democrático, não tem jeito", devolveu o ministro. O governo tem maioria na CPI Mista e terá também na nova CPI: oito governistas contra três oposicionistas.

A conversa de Lula com o PDT foi costurada por Múcio na semana passada. Uma boa relação com o partido é fundamental para que o governo mantenha uma maioria estável nas comissões de inquérito. Como não têm cargos no Executivo, os senadores pedetistas mantém uma postura independente na Casa. A legenda assinou o requerimento favorável à criação da CPI do Senado e não conseguiu impedir, na semana passada, a convocação da ministra Dilma Rousseff para a Comissão de Infra-Estrutura da Casa, apesar de ter um dos membros titulares na mesma - o senador João Durval Carneiro (BA).

O primeiro contato com o partido foi feito pelo ministro da coordenação política no próprio Senado, na quarta-feira passada. Múcio prometeu agendar um encontro com o presidente Lula, o que acabou acontecendo ontem. "O PDT não tem nenhuma demanda sobre cargos, eles pleiteiam mais espaço legislativo, a relatoria de alguns projetos, medidas às quais não estavam tendo acesso", reconheceu Múcio.

Os pedetistas levaram suas reclamações. Cristovam Buarque (DF) queixou-se de que o governo "rouba" projetos feitos por parlamentares e transforma-os em medidas provisórias. Com exemplo, citou o piso salarial dos professores das escolas públicas. Lula afirmou que ele, como presidente da República, não tem controle sobre essas coisas, transferindo a responsabilidade para os líderes no Congresso e o ministro Múcio.

Reclamaram, também, do excesso de MPs editadas pelo governo. Lula avisou que pelo menos duas - uma delas que define o reajuste dos servidores e outra que autoriza a contratação de professores - são inevitáveis. "Vocês precisam entender o nosso lado: qualquer governo, podendo, edita MPs", rebateu. Os senadores avisaram que se o Congresso continuar entulhado pelas MPs, não conseguirá votar a reforma tributária, matéria cara ao Executivo. "Se ela não for votada até julho, nunca mais será votada. Nem agora e nem no resto do governo", previu Lula.