Título: Governo ajudará Guiana a fabricar etanol
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Brasil, p. A4

O Brasil poderá patrocinar projetos de cooperação para produção de açúcar e etanol com o governo e setor privado da Guiana e, em até 90 dias, poderá iniciar a construção da ponte que permitirá maior tráfego de carga entre os dois países, anunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em curta visita à Guiana, ontem. Nos discursos da visita, Lula repetiu declarações feitas na véspera, na Venezuela, em favor do aumento das relações comerciais entre os países em desenvolvimento. "O Brasil, como maior economia do continente, não pode deixar de exercer o papel indutor de integração e repartição dos bens produzidos na região", afirmou o presidente, ao receber as chaves de Georgetown, em uma cerimônia na qual foi recepcionado ao som de "Unforgettable" de uma banda local. Guianenses do centro de cultura brasileira cantaram, afinados, a música "Aquarela do Brasil", chamando de "inzeniero" o "mulato inzoneiro" de Ari Barroso. Guiana e Suriname eram, até esta semana, os únicos países da América do Sul ainda não visitados por Lula, em seus esforços para constituição de uma Comunidade Sul-Americana de Nações. É a segunda visita de um presidente brasileiro. A primeira foi de José Sarney em 1989, segundo lembrou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Isso demonstra como a visita era necessária a um país com quem temos fronteiras e nenhuma presença", disse. Lula anunciou, em encontro com o presidente Bharrat Jagdeo, que o governo fez gestões no Tribunal de Contas da União para acabar com a paralisação da obra para uma ponte capaz de suportar o trânsito de carga entre os dois países, sobre o rio Tukutu. A obra, da construtora Queiroz Galvão, foi embargada por irregularidades na licitação, quando Neudo Campos governava o Estado de Roraima, em 2001. Com apenas 800 mil habitantes e irrisórios US$ 13 milhões em importações de produtos brasileiros, a Guiana recebeu Lula, para a assinatura de acordos na área de saúde e educação, dias depois de fortes chuvas que deixaram Georgetown com um surto de leptospirose que já vitimou 25 pessoas. Lula anunciou o envio de remédios e especialistas para ajudar no combate à doença. Ex-colônia britânica, muito dependente do açúcar para exportação, a Guiana poderá receber ajuda brasileira para desenvolver uma indústria de produção de etanol, disse o ministro Amorim. Representantes da Unica, a associação que reúne grandes usinas brasileiras, participaram do encontro de empresários realizado paralelamente à visita do presidente Lula. Amorim teve de, mais uma vez, garantir que o Brasil não tem interesse em modificar o acesso privilegiado que os países do Caribe têm ao mercado de açúcar europeu. Ele criticou as insinuações de governos europeus de que os exportadores de açúcar da região podem ser prejudicados em conseqüência da contestação brasileira vitoriosa na Organização Mundial do Comércio (OMC), contra os subsídios à agricultura na União Européia. Amorim disse que o Brasil defendeu que os países da região mantenham regras de acesso preferencial ao mercado europeu e tenham compensações pela perda resultante da abertura desses mercados a outros países. Amorim também afirmou que foram uma "ducha de água fria" as declarações de autoridades americanas contrárias à proposta brasileira de negociar um acordo de redução de barreiras comerciais com o Mercosul, independentemente da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O ministro reiterou que o mercado americano é o único interesse do Brasil na Alca. "Para nós, a negociação da Alca é uma negociação com os Estados Unidos", disse.