Título: Lula pede criação de força-tarefa para reagir a ataque europeu contra etanol
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2008, Brasil, p. A2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ontem ao ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) a criação de uma força-tarefa, juntamente com os ministérios de Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente e Agricultura, para elaborar estratégia de reação ao "processo de ataque" contra o uso dos biocombustíveis - em especial contra o etanol brasileiro - em crescimento na Europa. O contra-ataque será a maior divulgação possível dos benefícios do uso do etanol.

A decisão foi tomada no vôo do Brasil para a Holanda, onde Lula inicia hoje uma visita oficial de dois dias. O presidente e o ministro participarão de um seminário empresarial Brasil-Holanda, no qual o governo brasileiro pretende mostrar aos holandeses novas possibilidades de investimento no país. Participam 85 empresários brasileiros e 90 holandeses. A Holanda foi em 2007 o primeiro investidor individual no Brasil.

"Na minha opinião, esse processo de ataque ao etanol faz parte do protecionismo clássico europeu", disse Miguel Jorge. "Você só preocupa seu concorrente quando tem importância. A partir do momento em que você começa a ser eficiente, ocupar mercado, os seus concorrentes vão contra-atacar. É um pouco o processo que está acontecendo, além do processo de protecionismo clássico dos países europeus contra a agricultura dos países em desenvolvimento. O contra-ataque é informar, ser transparente e divulgar o maior número possível de informações."

Segundo ele, essa resistência de alguns países europeus, nesse momento, "é surpreendente", porque a questão do etanol tem sido discutida há anos. Na conversa que tiveram no vôo para Haia, sede do governo holandês, o presidente determinou a formação do grupo de trabalho logo que retornarem ao Brasil. Segundo ele, a falta de uma estratégia permanente de informação dificultou a reação do país quando houve uma campanha na Europa contra a carne brasileira.

De acordo com o ministro, a reação brasileira não deve ser feita em conjunto com os Estados Unidos - também alvo de resistência ao uso de biocombustíveis -, porque isso prejudicaria o Brasil. "As condições de produção do etanol nos Estados Unidos são completamente diferentes . A questão deles é realmente de estar substituindo alimentos por energia. Eles estão usando uma matéria-prima (milho) que é mais cara que a cana", disse.

O ministro rebateu os principais argumentos usados no combate ao uso do etanol, como o dano causado ao meio ambiente, utilização de trabalho escravo no cultivo da matéria-prima para produção do etanol - como a cana-de-açúcar - e prejuízos à produção de alimentos. "No caso do Brasil, não há substituição da produção de alimentos por etanol. Da área plantada, a cana usa menos de 4% do território. Com a modernização das áreas de pastagem, com mais produtividade, liberando a área de pastagem, não é preciso usar área nenhuma mais para elevar a produção de cana no país."

Quanto à questão da mão-de-obra, o ministro comentou que "casos pontuais" de trabalho escravo, que acontecem em regiões isoladas no país, estão sendo explorados "com competência" pelos concorrentes, como se fossem um problema do país todo. Segundo o ministro, as condições de trabalho melhoraram. Ele citou esforço da Única - união de usinas de açúcar de São Paulo - que está negociando com os sindicatos dos trabalhadores melhoria nas condições de trabalho.

Miguel Jorge nega que o etanol seja responsável pelo aumento da poluição. Disse não conseguir imaginar São Paulo, por exemplo, com 6 milhões de veículos, se 90% dos automóveis não fossem movidos a álcool. Citou que, pela primeira vez, em fevereiro e março, o consumo de álcool se equiparou ao consumo de gasolina.

O desmatamento, outro argumento usado na Europa contra o uso do etanol, também nada tem a ver com sua produção, segundo o ministro. Segundo ele, as grandes áreas produtoras de cana-de-açúcar estão longe das fronteiras agrícolas e da Amazônia.