Título: Venda de aviões a Chávez afeta papel de mediador
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Brasil, p. A4

A aquisição de armas e de aviões MIG da Rússia pela Venezuela preocupa muito mais os Estados Unidos do que a compra de aviões Super Tucano da Embraer para a Força Aérea do país. Fontes oficiais e pesquisadores da área de relações internacionais diferenciam as duas aquisições. Mas alguns analistas acham que a venda de aviões militares brasileiros pode prejudicar o papel do Brasil como mediador de crises regionais. O porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli, deixou claro em entrevista coletiva que os EUA não vêem com bons olhos a compra de 100 mil rifles AK-47 da Rússia e de aviões MIG. O temor é compartilhado pela Colômbia, que teme o tráfico de armas para as guerrilhas de esquerda. O papel do Brasil no relacionamento com a Venezuela é visto de maneira mais favorável pelos EUA. A secretária de Estado Condoleeza Rice mencionou o Brasil como um aliado importante na estabilidade regional da América Latina durante sua sabatina de confirmação no Senado. O país tem sido um mediador em momentos de crise, como o recente problema entre a Colômbia e a Venezuela em relação ao seqüestro a mando do governo colombiano de um líder das Farc que estava em Caracas. Uma fonte do Departamento de Estado, perguntada sobre a compra de aviões da Embraer, afirma que "o relacionamento entre Brasil e Venezuela deve ser abordado pelos dois países", bem diferente da declaração dada a respeito da compra de armas russas. "Como países vizinhos é lógico que Brasil e Venezuela busquem oportunidades de cooperação", afirma Peter De Shazo, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington (CSIS). Os aviões vendidos pela Embraer, ao contrário dos MIG russos, não tem apenas função militar e podem ser usados para patrulhar a área amazônica da Venezuela, o que pode ser positivo do ponto de vista da política de combate ao narcotráfico defendida pelos EUA. A avaliação deverá ser feita em relação às intenções de Chávez com a compra de armamento. A Colômbia tem sido a maior receptora de ajuda militar dos Estados Unidos na região, com a intenção de combater o narcotráfico e guerrilhas. O diretor do projeto de América do Sul do CSIS, Miguel Diaz, acha que o Brasil pode arriscar-se a perder a confiança de países com os quais a Venezuela têm conflito ao vender seus aviões militares.