Título: Governistas querem limitar depoimento de Dilma ao PAC
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Política, p. A6

Alan Marques/Folha Imagem Pessoa ligada à ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, chora na CPI dos Cartões: trabalhos na comissão esvaziados pela perspectiva de 2ª CPI A ministra Dilma Rousseff deve ir semana que vem à Comissão de Infra-Estrutura do Senado para falar sobre o andamento das obras do PAC, conforme convocação aprovada na semana passada. A oposição esperava conseguir tratar também da produção do dossiê sobre os gastos sigilosos do governo Fernando Henrique Cardoso na Casa Civil. Se isso acontecer, a base aliada já tem a estratégia definida: vai apresentar um requerimento obrigando que o debate na comissão fique restrito ao PAC.

Desde o fim da semana passada, o Planalto percebeu que é mais prudente poupar a ministra de declarações sobre o dossiê. No Palácio, a coletiva dada pela ministra na sexta-feira foi avaliada como desastrosa, pois atraiu para si o foco das investigações, ao invés de deixar claro que a Polícia Federal entraria no assunto.

Dilma relutava quanto a esta hipótese, mas acabou sendo convencida de que a crise extrapolava os limites de uma mera sindicância conduzida pela Casa Civil (que investiga o autor do vazamento) ou pelo Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), que fará a perícia nos computadores. Na segunda, a Polícia Federal foi ao Planalto e apreendeu cinco laptops e um computador de mesa. O ministro da Justiça, Tarso Genro, rebateu a idéia de "devassa" que esta apreensão sugeriu, alegando que a ação foi feita em consonância com a Casa Civil.

Na segunda-feira, Lula conversou com Dilma e reforçou o argumento palaciano: aconselhou que ela "tocasse a vida e o PAC" e parasse de falar de dossiês, vazamentos e assuntos correlatos "para evitar desgastes desnecessários". Durante cerimônia de lançamento do programa de banda larga nas escolas, questionada sobre o assunto, a ministra foi incisiva: "Enquanto a Polícia Federal estiver investigando, eu não me pronunciarei sobre o assunto".

A blindagem deve continuar na Comissão de Infra-Estrutura. Um assessor governista confirmou que, regimentalmente, é possível restringir o debate ao PAC. "Não significa que isso será feito, não vamos comprar essa briga de antemão. Mas, dependendo do curso que as coisas tomarem, podemos agir dessa maneira, sem problema", disse o governista.

Continua descartada qualquer ida de Dilma à CPI dos Cartões Corporativos. "Para que? Ela não é suspeita de nada", alegou o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro. Ontem, Dilma obteve outra vitória: a Comissão de Constituição e Justiça do Senado adiou o requerimento de convocação da ministra para falar, na CCJ, sobre o vazamento do dossiê.

A ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) afirmou ontem, em depoimento à CPI dos Cartões Corporativos, que utilizou o cartão do governo federal para pagar despesas pessoais em um free shop por engano. Ela disse que confundiu o seu cartão de crédito com o do governo. Segundo Matilde, o fato foi "isolado" e não condiz com a sua postura de controle de gastos adotada na Pasta. " Houve uma troca de cartões. Tenho um cartão pessoal da mesma cor e mesma bandeira do cartão do governo federal. Eu sabia que tinha que devolver o dinheiro ao erário público", justificou.

Também na CPI, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, defendeu o sigilo nos gastos de todos os presidentes da República. "O presidente do Brasil não há de ser diferente do presidente da República de nenhum outro país. O sigilo é absolutamente necessário", defendeu. (Com agências noticiosas)