Título: Resultado afeta reforma ministerial
Autor: Cristiano Romero e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Política, p. A6

A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara e a mudança na liderança do PMDB na Câmara atrasarão, mais uma vez, a definição da reforma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoverá em seu ministério. Partido da base congressual do governo, o PP teve a sua importância aumentada com a vitória de Severino. No PMDB, a destituição do líder José Borba (PR), leal ao Palácio do Planalto, poderá obrigar o governo a repensar sua relação com o partido. Lula pretendia fazer as mudanças no ministério logo após a eleição para as presidências da Câmara e do Senado. A derrota do PT na eleição da Câmara o obrigou a mudar os planos. O presidente Lula já havia formulado convite, inclusive, ao deputado Pedro Henry (MT), embora não tivesse definido a Pasta. A tendência era oferecer o Ministério do Trabalho ao PP. Agora, com a vitória de Severino Cavalcanti, o PP se sente fortalecido para almejar um ministério mais forte. "A eleição de Severino só fortalece o partido. Ser presidente da Câmara é muito mais importante que ter 20 ministérios", disse o presidente nacional da legenda, deputado Pedro Corrêa (PE), que se reuniu ontem com os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Articulação Política). "O governo vai ter que dividir poder. Com esse resultado, a reforma ministerial terá que ser ampliada", comentou um interlocutor privilegiado de Lula. "A relação é diferente. Hoje, o PP é um partido forte. Tem que ser mais bem tratado", afirmou Corrêa, acrescentando, no entanto, que a entrada do partido no ministério não é assunto para ser tratado agora. O que deverá facilitar os entendimentos com o PP será a futura relação entre Lula e Severino. Na conversa que teve ontem com o deputado pernambucano, Aldo Rebelo disse que espera dele o comportamento de um presidente da Câmara de um partido aliado. Severino informou a Aldo que visitará Lula nos próximos dias. Em outra frente, a saída de José Borba da liderança do PMDB na Câmara obrigará o governo, segundo um ministro, a recompor sua relação com o partido. O deputado Saraiva Felipe (MG), substituto de Borba, está sendo escolhido líder com o apoio do ex-governador Anthony Garotinho e do presidente da legenda, Michel Temer, duas lideranças do PMDB que vêm tentando colocar o partido na oposição ao governo Lula. Na avaliação de um ministro, Saraiva não é ligado a Garotinho, mas ao ex-presidente Itamar Franco, com quem o ministro José Dirceu vem cultivando boas relações. A aliança com Garotinho seria temporária, apenas para viabilizar a escolha de Saraiva como líder. Os petistas querem aproveitar a derrota sofrida na Câmara para forçar o presidente Lula a destituir Aldo Rebelo da articulação política. Lula vem resistindo a essa pressão desde o ano passado e, dificilmente, cederá agora. Rebelo tem uma espécie de anteparo no Senado. Conta com o apoio do líder do governo na Casa, senador Aloízio Mercadante (PT-SP), com quem se encontrou ontem, e do presidente eleito Renan Calheiros (PMDB-AL), de quem é amigo próximo. "Claro que a responsabilidade institucional da derrota vai recair sobre o Aldo, mas politicamente quem fez a maior parte da 'lambança' foi João Paulo, ao insistir na emenda da reeleição e em desarticular o processo", analisou um governista. Aldo Rebelo deixou claro que a coordenação política não é responsabilidade de um só. Todo o governo deve estar integrado para facilitar o diálogo. "Na vida política não existe propriamente o caminho mais fácil. Existe o caminho possível. E é o caminho possível dentro da democracia, respeitando a vida democrática no país e no Congresso. É por esse caminho que os objetivos do governo têm que ser construídos." O futuro de João Paulo também está em jogo. Recentemente, segundo apurou o Valor, ele teria postulado, junto à cúpula do PT, a indicação para o Ministério da Previdência, cujo ministro, Amir Lando, está enfraquecido. O problema é que parte da fatura da derrota do PT na Câmara é atribuída justamente a João Paulo.