Título: Brasil cai para 59º lugar em ranking de TI
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2008, Epresas, p. B3

Um balde de água fria. Assim pode ser resumido o efeito que o Relatório Global de Tecnologia da Informação 2007-2008 reservou para o Brasil. Divulgado ontem, o estudo anual feito pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) aponta que o Brasil caiu seis posições no ranking geral elaborado pelo Fórum e passou a ocupar a 59ª posição entre os 127 países analisados (ver quadro). É um resultado, no mínimo, intrigante.

O ano passado foi sem precedentes para a indústria de computadores e de telecomunicações do país. Mais de 10 milhões de PCs foram comprados no Brasil. O país ultrapassou a marca de 120 milhões de usuários de telefone celular. Não é de hoje que o internauta brasileiro é o que passa mais tempo conectado à internet em todo o mundo. O que, então, explica a queda abrupta no ranking? "Temos que considerar um conjunto de fatores, e o que vemos é que o Brasil tem problemas estruturais", disse Irene Mia, co-editora do relatório e economista sênior de competitividade global do WEF.

Em entrevista ao Valor, Irene afirmou que o Brasil tem se destacado em alguns áreas, mas outros países andaram mais rápido. "Apesar de o cenário tecnológico ter melhorado entre as empresas, o Brasil ainda tem sérios problemas quando se trata se burocracia e taxas, além de limitações com o sistema educacional."

O índice elaborado pelo WEF avalia dezenas de quesitos, os quais são agrupados em três temas: 1. o ambiente empresarial, regulatório e de infra-estrutura de TI; 2. o preparo do governo, pessoas e empresas para usar recursos; 3. a implementação real de novas tecnologias. Nem tudo é terror nesse cenário. Se pinçado um assunto específico, como a sofisticação do mercado financeiro, por exemplo, a posição do Brasil sobe para 31º lugar. O país também se destaca (27ª posição) no recorde de uso de tecnologias pelo setor público.

Não há surpresa, porém, quando observado o quesito de taxas sobre o setor de TI e seus efeitos sobre o mercado: o Brasil conseguiu nada menos que a última posição no ranking, o 127º lugar. "Infelizmente não há o que comemorar sobre isso", comentou Irene. "A tecnologia entrou na agenda do governo, mas ainda há problemas crônicos para resolver."

Neste ano, o destaque da América Latina ficou com o Chile, que, embora tenha caído três posições, ocupa a 34ª posição do ranking do WEF. Entre os 50 primeiros colocados, estão ainda Barbados (38º ), Porto Rico (39º ) e Jamaica (46º ). "Isso não significa, porém, que Barbados tenha um cenário melhor que o Brasil", ponderou Irene. "Não faz sentido comparar uma coisa com a outra, são proporções absolutamente distintas."

O relatório mostra que, se colocado ao lado de seus maiores vizinhos latinos, ou ainda dos principais concorrentes internacionais do mercado de TI, até que o Brasil não fez tão feio. Está apenas uma posição atrás do México (58º ) e 18 à frente da Argentina. De maneira geral, o cenário tecnológico também está relativamente próximo do que se vê na Índia (50ª) e na China (57ª ).

Como ocorreu na edição anterior do estudo, a Dinamarca levou o primeiro lugar. A situação também se repetiu para o Chade, que continua na última colocação no ranking geral. A maior surpresa deste ano talvez seja a Coréia do Sul, que subiu 10 posições e passou a figurar na 9º do relatório.

O Brasil, comentou Irene, costuma perder posições no estudo por ser um país de "diferentes realidades." Essas realidades foram apontadas por uma recente pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.BR). O mesmo Brasil que é referência internacional em serviços como declaração de Imposto de Renda e eleição eletrônica, também convive com a realidade de saber que apenas 17% dos seus domicílios têm acesso à internet. Segundo o CGI.BR, 47% da população nunca usou um computador. Se o assunto é internet, essa média sobe para 59%.

Enquanto 30% e 31% das casas das regiões Sudeste e Sul, respectivamente, tem um computador, apenas 13% das famílias do Norte possuem o equipamento. No Nordeste, o índice cai para 11%.