Título: FMI prevê recessão moderada nos EUA e recuperação só em 2009
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2008, Finanças, p. C12

Michael Spilotro / IMF via Bloomberg News O economista-chefe do Fundo, Simon Johnson, recomendou aos países emergentes que respondam "de forma flexível" às pressões inflacionárias para ter como reagir se riscos aumentarem A economia americana atravessará neste ano uma "recessão moderada" e só começará a se recuperar no ano que vem, num processo de ajuste prolongado que poderá ser acompanhado de uma deterioração mais profunda do cenário econômico mundial, alertou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Países emergentes como o Brasil continuarão crescendo, mas o ritmo será menos exuberante que o dos últimos anos e eles enfrentarão pressões que tornarão muito difícil segurar a inflação sem aumentar os riscos de uma contração da atividade econômica, afirmou o Fundo.

Ao apresentar a nova edição do relatório semestral da instituição sobre o cenário econômico mundial, o economista-chefe do FMI, Simon Johnson, recomendou aos países emergentes que respondam "de forma flexível" às pressões inflacionárias, para ter condições de reagir com mais agilidade se os riscos no ambiente externo aumentarem.

De acordo com as projeções do Fundo, os Estados Unidos devem crescer apenas 0,5% neste ano e 0,6% no próximo. A previsão para a economia mundial é de crescimento de 3,7% neste ano e de 3,8% no seguinte. Os países em desenvolvimento devem crescer 6,7% neste ano e quase a mesma coisa em 2009.

As projeções do FMI refletem uma visão mais pessimista do que a apresentada nos últimos dias pelo Federal Reserve, o Banco Central americano. Na avaliação do Fed, a economia dos EUA começará a se recuperar no segundo semestre deste ano e deverá crescer num passo bem mais acelerado no próximo ano.

O pessimismo do Fundo também se revelou em projeções mais conservadoras para a Europa, que tem sofrido mais diretamente o impacto da desaceleração dos EUA e onde os bancos ainda precisam contabilizar bilhões de dólares em prejuízos associados aos problemas no mercado imobiliário americano.

O Brasil foi um dos poucos países relevantes monitorados pelo Fundo que teve sua projeção de crescimento revisada para cima. O FMI prevê que o país crescerá 4,8% neste ano e 3,7% no próximo, acima da média estimada para a América Latina. Em janeiro, a projeção para este ano era de crescimento de 4,5%.

Os economistas da instituição fizeram simulações para examinar outros cenários e estimaram em 25% as chances de que a taxa de expansão da economia mundial caia para 3% ou menos nos próximos meses, o que teria na prática os efeitos de uma "recessão global", conforme o Fundo.

Como outros dirigentes do FMI têm feito desde que a extensão da crise americana ficou mais clara há alguns meses, Johnson recomendou ontem a adoção de políticas diferentes do receituário habitual do Fundo, sugerindo o uso de estímulos fiscais para evitar uma contração econômica muito dolorosa.

Mas o economista-chefe do FMI disse que essas políticas devem ser usadas com moderação para evitar o desarranjo das contas do governo. "O uso de espaço fiscal, onde estiver disponível, deveria ser temporário e não prejudicar esforços para a consolidação das finanças públicas no médio prazo", disse Johnson.

Países com dívida pública muito elevada não teriam condições de tomar medidas desse tipo, segundo o Fundo. Embora o relatório do FMI não diga, é o caso do Brasil. O governo brasileiro aumentou muito suas despesas nos últimos anos, em vez de poupar as receitas extraordinárias acumuladas com a valorização das matérias-primas e de outras mercadorias que exporta.

O Fundo também está preocupado com as pressões que a alta dos alimentos e do petróleo continua gerando no mundo inteiro. A instituição acredita que os países emergentes terão mais dificuldades que os países ricos para lidar com a inflação, por causa dos reflexos que políticas monetárias mais restritivas teriam sobre suas economias justamente na hora em que elas mais precisam de oxigênio. Nos EUA, o Fundo acredita que a desaceleração em curso ajudará a segurar os preços mesmo se o Fed continuar baixando os juros.

Ao comentar a situação brasileira, o diretor-adjunto do departamento de pesquisa do FMI, Charles Collyns, preferiu salientar os avanços obtidos pelo país nos últimos anos do que discutir os problemas que ele ainda enfrenta. Mas Collyns reconheceu que a economia brasileira "será afetada" pelos desdobramentos da crise na economia dos EUA.

Criticado por não ter antecipado a gravidade dos problemas que abalaram o mundo das finanças e a economia global nos últimos meses, o Fundo reconheceu ontem os seus limites. "Não acredito que o rabo financeiro esteja prestes a abanar o cachorro econômico", disse Johnson há exatamente um ano. Ontem, ele riu amarelo e admitiu: "Todo mundo aprendeu muito sobre cachorros financeiros e seus rabos."

O relatório do FMI está disponível em www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2007/01