Título: Parmalat recupera terreno perdido
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2008, Agronegócios, p. B16

A Parmalat, que anunciou ontem a assinatura de um memorando de entendimentos com a francesa Danone para a aquisição do "negócio Poços de Caldas" e dos direitos de uso da marca Paulista, deve se tornar em 2008 no Brasil uma empresa maior do que foi em seus anos áureos, antes da crise da antiga controladora italiana que a levou à recuperação judicial, em junho de 2005.

A Laep Investiments, que assumiu o controle dos ativos brasileiros da múlti em meados de 2006, teve receita líquida de R$ 1,1 bilhão em 2007, mas este ano esse número deve superar os R$ 1,6 bilhão que a antiga Parmalat apurou em 2002, acredita Marcus Elias, presidente da Laep e da "nova" Parmalat. O faturamento vai crescer na esteira da compra da Poços de Caldas e do uso da marca Paulista e de outras aquisições.

A estratégia da Parmalat com as mais recentes negociações é segmentar e ampliar seu portfólio de marcas e produtos, segundo Elias. "Não queremos ser concentrados em nenhum produto". Leite longa vida ainda é o principal peso no faturamento - 50%, mas já foi bem mais. Quando a Laep adquiriu a Parmalat, o longa vida representava 90%.

Ele não informou o valor da transação com a Danone, mas antecipou que a intenção é ter, além do tradicional requeijão, outros produtos sob o guarda-chuva da marca Poços de Caldas, fabricado na unidade da cidade do mesmo nome em Minas Gerais. Com a marca Paulista, o plano é produzir inicialmente leite longa vida, leite pasteurizado e bebidas lácteas. "A Poços de Caldas é líder absoluta em requeijão e a marca Paulista tem um recall forte", justifica Elias.

A marca Paulista foi vendida pela Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo (CCL) para a Danone em 2000, juntamente com uma unidade fabril em Guaratinguetá, a linha de refrigerados e as marcas Pauli e Fruty. De acordo com Elias, a CCL vinha usando sob licenciamento da Danone a marca Paulista, mas "vai deixar de ter licença". Hoje, a CCL tem acordo de cooperação com a Eleva, comprada pela Perdigão ano passado, para captação de leite e industrialização de produtos com a marca Elegê em sua unidade de São Paulo. A Eleva também comprou a unidade da CCL em Itumbiara (GO) em 2007.

Além de ampliar a receita, as novas compras também devem permitir à Parmalat elevar para 4,2 milhões de litros por dia a captação de leite no país, aumentando a disputa nesse ranking que tem hoje a Nestlé-Fonterra como líder. Quando a Parmalat foi adquirida pela Laep, em junho de 2006, captava 1,46 milhão de litros por dia.

Desde que comprou a Parmalat, a Laep investiu R$ 166,49 milhões em aquisições. Foram quatro fazendas e a In Vitro, empresa especializada em fertilização in vitro e em transferência de embriões - tudo para o Integralat, projeto de integração da produção de leite - e três laticínios: Sonata, Ibituruna e Montelac (negócio em fase de finalização). Também arrendou quatro plantas para produção de lácteos, de acordo com Elias.

Com isso, o número de unidades de produção (inclui lácteos e biscoitos) da Parmalat saltou de seis quando a Laep a adquiriu para 15 atualmente (sem considerar o recente negócio com a Danone), espalhadas por São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Rondônia.

Aliás, é essa distribuição geográfica das unidades que Marcus Elias vê como um fator positivo na estratégia da empresa de segmentar seu portfólio de marcas e produtos. Com bacias de captação de leite espalhadas por essas regiões, fica mais fácil ampliar a produção. Além disso, diz o presidente da empresa, o plano é usar as redes de distribuição regionais para alavancar marcas nacionais.

A prioridade da Parmalat hoje é o mercado do Nordeste, "o que mais cresce em consumo de lácteos", afirma Marcus Elias. Na região, a Parmalat é forte com a marca Alimba. E é lá que vai retomar os iogurtes Yolat, com produção na unidade de Garanhuns (PE), onde já processa leites em pó, longa vida e pasteurizado. Segundo Elias, a empresa também voltará a produzir iogurte com a marca Parmalat, com licença da Parmalat da Itália. A Batávia, controlada pela Perdigão, também tem licença para produzir refrigerados com a marca.

Também nos planos da Parmalat está investir em duas fábricas de leite em pó, de olho na exportação, "entre Minas e Rio Grande do Sul".

Todos os últimos investimentos na Parmalat foram realizados com recursos obtidos na abertura de capital da Laep, em outubro, quando levantou R$ 507 milhões com a oferta de Brazilian Depositary Receipts (BDRs). Os papéis saíram a R$ 7,50 cada, um preço de emissão 34% inferior ao piso da estimativa, que oscilava entre R$ 11,50 e R$ 15,50.

O próprio Elias admite que o resultado da oferta foi prejudicado pelas denúncias de adulteração de leite em cooperativas de Minas Gerais, que forneciam à Parmalat. As acusações foram refutadas pela empresa e em dezembro passado o Instituto de Criminalística não confirmou categoricamente a presença de soda cáustica e água oxigenada em amostras de leite colhidas, conforme a Associação Brasileira do Leite Longa Vida (ABLV). (Colaborou Fernando Lopes)