Título: Para Lula, é a demanda por alimento que causa infl
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Brasil, p. A4

AP Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado da primeira-dama Marisa e a da rainha Beatriz, da Holanda, durante recepção oficial no palácio real, em Haia O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem o aumento da inflação no Brasil e em outros países ao crescimento da demanda mundial por alimentos - motivo que considerou "bom", por significar que "os pobres do mundo começaram a comer". Depois do diagnóstico, Lula apontou a solução: produzir mais alimentos.

"Desde o fim do ano passado temos acompanhado o crescimento da inflação em vários países do mundo, seja na China, no Chile, no Brasil e em outros países da Europa. Há uma pressão de determinados alimentos que está fazendo com que a inflação suba em alguns países", disse. Para Lula, a razão é "totalmente explicável e compreendida: os pobres do mundo começaram a comer".

Ao lado do primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Belkenende, em Haia - sede do governo holandês -, Lula foi perguntado sobre a inflação pelos jornalistas brasileiros. Ao responder, negou que o aumento da inflação tenha qualquer relação com eventual substituição de plantação de alimentos no país pelo cultivo de cana-de-açúcar, destinada à produção do etanol.

"Estou convencido que o mundo precisa produzir mais alimentos. E não me venham com o discurso de dizer que é o biocombustível que está causando aumento do (preço) do alimento", disse. A afirmação foi feita em um momento de maior resistência na Europa ao uso dos biocombustíveis e do etanol brasileiro como fonte alternativa de energia.

O primeiro-ministro, por sua vez, afirmou que a inflação da Holanda (abaixo de 2%) é baixa, mas está crescendo. Ao contrário de Lula, ele citou diferentes fatores para explicar esse aumento. Disse que, em parte, é resultado do preço das commodities e da energia. Mas também admitiu poder haver relação com o custo da mão-de-obra. O ministro defendeu uma estratégia internacional de uso do biocombustível, levando em conta a questão da sustentabilidade.

"As pessoas falam de biocombustíveis [na Europa]. Claro, há muitas vantagens, mas é preciso se levar em conta os efeitos ecológicos", disse Balkenende. Ele e Lula fizeram declaração à imprensa sobre a importância das parcerias comerciais entre Brasil e Holanda.

O presidente comparou o aumento do consumo de alimentos no mundo ao aumento da expectativa de vida. "O que está causando (a inflação), e isso é bom, é mais ou menos como a longevidade. Todos os sistemas de pensões do mundo estão se queixando, mas, ao mesmo tempo, todos estão felizes porque o ser humano não morre mais aos 60, 70 anos, e está vivendo até os 80."

A situação, segundo ele, é a mesma no caso do aumento do consumo de alimentos, "porque milhões de pobres do mundo, que não tinham acesso à comida, estão tendo acesso agora. Significa que precisamos produzir mais alimentos", disse. No caso do Brasil, o presidente citou especificamente o feijão e o leite, produtos que o Brasil tem condições de produzir mais e que representam hoje 0,7% de uma inflação de 4,5%.

Ao defender um "chamamento" mundial para que os países aumentem a produção, Lula afirmou que o Brasil vai resolver este problema "com muita facilidade", já que dispõe de muita terra agricultável. Ela totalizaria 400 milhões de hectares de um total de 851 milhões existentes no país. Além disso, há outros 60 milhões de hectares antes destinadas a pastagem, que podem ser recuperadas para produção de qualquer coisa.

"Ou seja, mais do que muitos países têm em sua totalidade. Eu confesso que este não é um problema. Primeiro, porque temos que dar graças a Deus que o povo está comendo mais. E, quando pobre está tendo acesso à comida, é uma alegria imensa. Segundo, porque, se todo mundo voltar a produzir um pouco mais, a gente vai ter mais riqueza, mais emprego e menos inflação."

No primeiro dia de sua visita de Estado aos Países Baixos, Lula foi recebido pela rainha Beatriz, em cerimônia oficial de chegada, no Palácio Noordeinde. Depois, reuniu-se com as presidentes das Câmaras Alta e Baixa daquele país e, depois, com o primeiro-ministro.