Título: Vitória de Severino dá munição contra a MP 232
Autor: Jamil Nakad Junior e Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Política, p. A6

A derrota do governo federal na eleição do candidato oficial do PT à Presidência da Câmara dos Deputados só deu mais munição à "Frente Brasileira contra a MP 232". A organização reuniu ontem em São Paulo mais de 1,1 mil entidades em torno da derrubada da medida provisória que onera ainda mais a carga tributária. A vitória do representante do baixo clero foi usada por empresários e sindicalistas, de que se o governo mantiver a medida, ela será rejeitada no plenário. "O resultado do Congresso mostra que o rabo é que balançou o cachorro... Ou o governo Lula percebe que está errado ou será derrotado novamente", protestou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. Para o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Cláudio Vaz, a vitória do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) cria um "ambiente positivo para rejeitar essa MP" : "(O governo) deve prestar mais atenção ao diálogo antes de impor suas posições". O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que também foi surpreendido em sua eleição ao ter que dividir o poder entre os industriais paulistas com Vaz, teve um tom mais comedido. Sem a Fiesp fazer parte da Frente, Skaf preferiu cumprimentar o deputado pernambucano Severino Cavalcanti, a quem chamou de "amigo": "O presidente da Câmara Federal vai ter nosso apoio, todo nosso respeito e vamos trabalhar juntos". Já Paulinho, da Força Sindical, confessou que foi surpreendido e disse que não conversara com o novo presidente da Câmara Federal nas suas viagens a Brasília. Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, a eleição de Severino mostra que o governo precisa negociar. "Esperamos que a MP seja derrubada, que seja transformada em projeto de lei." Essa também foi a opinião do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo, Luiz Flávio Borges D'Urso: "Mais uma vez está demonstrado de que se não tiver uma boa articulação, um diálogo com toda a sociedade, o resultado é o insucesso". A manifestação com as 1.111 entidades ligadas a empresários e sindicalistas serviu para esquentar o debate em torno das próximas etapas das reformas tributária e previdenciária, que ainda faltam ser feitas. Esses temas entrarão na ordem do dia da Câmara nos próximos dois anos por decisão do novo presidente da Casa, Severino. Empresários também criticaram a recorrente saída do governo nos últimos mandatos de aumentar a carga tributária para responder ao crescimento dos gastos públicos. "Temos que discutir os outros rumos do governo: uma reforma tributária que foi feita pela metade. Ainda falta toda a reforma previdenciária do setor público ser implementada. Temos a questão dos juros que afeta as questões de déficit público", avisou Vaz. "Estamos cansados com os altos gastos públicos, que acabam refletindo em altos juros, que por sua vez prejudicam a relação do câmbio, que tiram a competitividade dos produtos brasileiros. Tudo isso incomoda", cobrou Skaf. Amanhã, a Frente quer reunir em Brasília parlamentares contrários a MP 232. Skaf disse ainda que neste dia poderá ocorrer outro encontro com o ministro Antonio Palocci para continuar a negociação.