Título: Cotado para a sucessão de Lula, Ciro aproxima-se do movimento sindical
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Política, p. A6

Um dos possíveis candidatos da base aliada à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) fez ontem em São Paulo uma tentativa de aproximação com um dos principais setores de sustentação política do governo federal, o movimento sindical. O parlamentar foi o destaque da reunião da direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde passou mais de quatro horas debatendo temas nacionais.

Bem-humorado e constantemente fumando um cigarro na fechada sala de eventos de um hotel na parte central da rua Augusta, o deputado participou ao lado do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) de uma mesa sobre a reforma tributária, na qual também esteve o secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, André Paiva.

Entretanto, roubou a cena de ambos. Enquanto Paiva apresentou a proposta de reforma do governo e Mercadante listou o que considera vitórias do governo Lula depois de ter afirmado que o candidato da base será "Ciro ou alguém do PT", o deputado apresentou suas críticas à proposta do governo. E, passados os 30 minutos de explanação de cada um, permaneceu no debate até o fim, quando os outros dois palestrantes já haviam abandonado o lugar.

Por diversos momentos, provocou gargalhadas na platéia de sindicalistas. Quando falava sobre política, fez menção a "o meu amigo Aécio Neves", o que, prontamente, fez com que uma sindicalista mineira contestasse. "É isso mesmo. Sou afeiçoado politicamente a ele. E quando se instalou o golpe contra Lula foi o único tucano que defendeu o presidente", respondeu.

Instantes depois, um integrante da platéia brincou com ele: "Vem para o PT!", ao que o parlamentar respondeu com o mesmo chavão que o governador mineiro tem usado: "Sou o pós-PT". E completou: "Sucedi a um governo petista na Prefeitura de Fortaleza. E já poderia ter ido anos atrás. Nas eleições de 1989 apoiei Lula no segundo turno, mas o PT fez uma reunião para avaliar se queria ou não meu apoio", o que provocou risadas no público.

O parlamentar continuou a falar sobre petistas, levando a mais risos dos presentes. "Jamais me iludi com reducionismos moralistas. Isso se vira contra nós, como virou contra o PT. Mas o PT está aprendendo. Tem uns acordos aí que eu nem chego perto."

A certa altura, cometeu uma gafe, quando comparou o custo do mensalão com o do Rodoanel paulista. "Sabe quanto custou o mensalão? R$ 50 milhões. É o preço por quilômetro do Rodoanel de São Paulo! R$ 50 milhões. É um Delúbio por quilômetro". Na terceira fileira, assistia a explanação a mulher de Delúbio Soares, Mônica Valente, uma das fundadoras da CUT.

Embora discordantes em alguns pontos, a afinidade política com a CUT foi demonstrada no discurso da necessidade de se institucionalizar conquistas sociais dos oito anos do governo petista: "O maior defeito do governo Lula é que as conquistas não estão institucionalizadas", mesma opinião do presidente da central, Arthur Henrique, dada minutos depois: "Precisamos garantir mecanismos para institucionalizar os avanços e ganhos do governo Lula, para que não venha ninguém e, em uma canetada, ponha tudo abaixo".