Título: Aécio abre chapa em BH para o PMDB
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Política, p. A12

A polêmica em torno da aliança do PSDB e do PT para a Prefeitura de Belo Horizonte pode ser levada novamente ao gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desta vez, quem quer a arbitragem do presidente da República é o PMDB, que ameaça romper as parcerias com o PT em todos os municípios por considerar-se preterido nas negociações políticas para as eleições de outubro. Os pemedebistas mineiros ficaram animados depois de um jantar com o governador de Minas, Aécio Neves.

Diante do ministro das Comunicações, Hélio Costa, e do vice-presidente, José Alencar, Aécio prometeu não colocar "nenhuma objeção" ao desejo do PMDB de indicar a cabeça de chapa ou o vice na sucessão à Prefeitura de Belo Horizonte.

A aliança PSDB e PT prevê, inicialmente, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas, Márcio Lacerda, filiado ao PSB, como o candidato à prefeitura. No jantar, contudo, Aécio disse que a escolha de Lacerda foi feita pelo petista Fernando Pimentel. O pessebista foi companheiro de cela de Pimentel durante o regime militar e ambos mantém uma amizade sólida desde então. O tucano, no entanto, admitiu ser difícil uma troca de nomes neste momento, já que os prazos para confirmação de candidaturas e início de campanha estão cada vez mais próximos.

Por isso o PMDB mineiro quer pressa. "Eu espero que o nosso presidente, Michel Temer (SP) e o ministro Hélio Costa marquem uma conversa com o presidente Lula na próxima semana, já que o PT vai definir a chapa no dia 27", afirmou o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), um dos pré-candidatos da legenda à prefeitura - o outro é o deputado estadual Sávio Souza Cruz. Quintão acredita que, pelo peso e importância do PMDB, no Brasil e em Minas, é um absurdo a legenda ter sido alijada das discussões sobre alianças em Belo Horizonte.

O pemedebista reclamou de Pimentel, alegando que ele quer indicar o candidato a prefeito e a vice (a vaga deve ser do PT). "O presidente Lula tem que entrar nesse debate, o assunto deixou de ser um problema municipal e está contaminando a relação nacional entre o PT e o PMDB". Os dois partidos também estão estremecidos em Salvador, onde os petistas preferiram lançar candidato próprio em vez de apoiar a reeleição do pemedebista João Henrique.

Há duas semanas, Lula abriu as portas de seu gabinete para ouvir as lamúrias do vice José Alencar, e dos ministros Hélio Costa, Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Eles se queixaram de que Pimentel fechou um acordo com Aécio sem consultá-los. Na semana seguinte, o grupo novamente se reuniu, desta vez com a presença de Pimentel.

Lula repreendeu o petista, afirmando que ele deveria ter negociados a aliança com as demais lideranças mineiras. Mas não pressionou por mudanças de nomes, transferindo para o PT, em especial Pimentel, a prerrogativa de corrigir os estragos já feitos. Michel Temer sabe desse histórico e não demonstrou muita disposição em importunar Lula com essa questão novamente. "Deixe os mineiros se acertarem primeiro, vamos ver como as coisas evoluem", desconversou Temer.

O governador de Minas, que também despistou qualquer conversa sobre deixar o PSDB e migrar para o PMDB - "toda vez que converso com algum partido, já afirmam que estou querendo me filiar a ele" - declarou ontem, depois de encontro com o presidente em exercício, José Alencar, que está em jogo em Minas não uma disputa de pessoas ou legendas, mas a continuidade de um projeto exitoso na melhora da vida dos habitantes da capital mineira. "Seria muito bom se o PMDB também se agregasse. Eu não tenho pressa para costurar essas coisas, tudo isso ainda está sendo debatido no âmbito dos partidos", afirmou o governador mineiro.