Título: Berlusconi é favorito, de novo, na Itália
Autor: Saccomandi , Humberto
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Especial, p. A16

AP Silvio Berlusconi, o líder conservador, é favorito nas eleições na Itália A Itália vai às urnas, no domingo e na segunda, em eleições antecipadas para eleger o Parlamento e o novo governo. A não ser que as pesquisas de intenção de voto estejam erradas, o polêmico Silvio Berlusconi, o homem mais rico do país, será eleito premiê pela terceira vez. Mas, a não ser que as pesquisas estejam erradas, sua coalizão de centro-direita terá uma maioria mínima no Senado e dependerá do apoio de aliados com interesses conflitantes, exatamente como ocorreu com o demissionário premiê Romano Prodi. Isso sugere um governo frágil e que dificilmente conseguirá tirar a Itália da profunda crise que o país atravessa.

A legislação italiana proíbe a divulgação de pesquisas de intenção de voto nas duas semanas que antecedem as eleições. Mas Berlusconi manteve durante toda a campanha eleitoral a vantagem de 5 a 9 pontos percentuais reiterada pelas últimas pesquisas publicadas.

Mesmo para quem acompanha o noticiário italiano, é difícil não se perder na maré de partidos, minipartidos, siglas, símbolos e coalizões, que mudam de uma eleição para outra, num indício poderoso da instabilidade política do país.

Berlusconi lidera o bloco de centro-direita. Seu partido, o Força Itália (que ele trata como uma propriedade sua), concorre junto com a Aliança Nacional (de origem fascista) numa aliança com o nome populista de Povo da Liberdade. A aliança está em coalizão com a Liga Norte, partido autonomista do norte da Itália, e com outros menores que nem vale a pena citar.

O principal adversário de Berlusconi é Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma e líder do Partido Democrático (antigo DS, antigo PDS, principal herdeiro do extinto Partido Comunista Italiano).

AP Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma, líder do Partido Democrático O centro-esquerda venceu duas das últimas três eleições, sob a liderança de Prodi, que desta vez não se candidatou. O bloco se mostrou viável eleitoralmente, mas não conseguiu governar, devido à heterogeneidade dos numerosos partidos que o compunham, da extrema esquerda aos católicos.

Desta vez, Veltroni desistiu de quase todos os 18 partidos que compuseram o bloco de centro-esquerda nas eleições de 2006. O PD se aliou a apenas um pequeno partido. Quer se tornar a referência do centro-esquerda, desidratando as demais agremiações que orbitavam em torno dele. Essa estratégia pode ajudar a estabilizar o quadro político da Itália no médio prazo, mas agora favorece Berlusconi.

Aos 71 anos, cabelos devidamente tingidos, Berlusconi terá sua terceira, e possivelmente última, chance de governar a Itália. Seu retrospecto não é bom.

Com uma fortuna pessoal avaliada em US$ 12 bilhões pela revista "Forbes", Berlusconi prega ainda medidas de liberalização e abertura da economia italiana.

O problema é que seus governos tendem a ir na direção oposta, elevando os gastos do Estado e a dívida público e protegendo setores da economia (como ele está fazendo agora, opondo-se à venda da Alitalia para o grupo Air France-KLM, ou como fez ao resistir à entrada de bancos estrangeiros).

A receita de Berlusconi para estimular a economia, como também a de Veltroni, é uma mistura de corte de impostos e aumento de gastos. É uma equação difícil de realizar quando o país está à beira da recessão, com déficit fiscal perto de 3% do PIB e com a maior dívida pública da UE.

Além disso, a credibilidade de Berlusconi é solapada pelas acusações de que ele governa em causa própria. Ele foi um dos principais beneficiários de uma série de medidas em seus governos anteriores, como uma anistia fiscal (que permitiu a repatriação de dinheiro mantido no exterior) e a eliminação de pena de prisão para crimes dos quais ele é ou era acusado.