Título: PT tenta retomar coordenação política
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2005, Política, p. A7

A cúpula do PT pretende usar a eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara para tentar retomar a coordenação política do governo, há um ano nas mãos do ministro Aldo Rebelo. A avaliação é que a estratégia de Aldo de privilegiar o diálogo institucional, negociando com os presidentes de partido e lideranças no Congresso foi um dos motivos da derrota do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Segundo dois integrantes da Executiva Nacional da sigla, com trânsito livre no Palácio do Planalto, a vitória de Severino foi uma reação do baixo clero a este tipo de interlocução. O posicionamento dos líderes pela candidatura oficial foi ignorado pelos liderados. "Na Câmara, cada deputado é uma instituição e a negociação teria que ser feita parlamentar por parlamentar", afirmou um destes membros do comando petista. Segundo estes dirigentes, a maioria dos parlamentares não conseguiu, por meio de seus líderes, obter o espaço que desejava dentro do governo. Sobretudo na indicação para cargos de escalão inferior na máquina administrativa. O Banco do Brasil foi citado como exemplo. Só seis cargos dentro da instituição entraram no rateio. Paradoxalmente, os petistas acreditam que o resultado pode impulsionar uma reforma política que reforce os mecanismos de fidelidade partidária. Seria uma reação a um resultado que quebrou os mecanismos institucionais de articulação. Principal beneficiário desta conjuntura, o novo presidente da Câmara será um obstáculo para a reforma. Mas estes integrantes do comando do PT acreditam que Cavalcanti não terá forças para brecar a mudança. Ressaltam que o parlamentar assume com uma agenda voltada para interesses internos da Câmara, que deverá afetar a imagem pública do Legislativo e bloquear seus movimentos para controlar a pauta da Casa. Na frente interna, já começa a discussão sobre o que fazer com o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), candidato avulso que ficou em terceiro lugar na disputa. Segundo um dos dirigentes, o parlamentar mineiro não foi o único fator a provocar a derrota de Greenhalgh, mas será tratado como se fosse. A idéia é suspender sua filiação por um ano, excluindo-o do processo de renovação de todos os diretórios do PT por eleição direta entre os filiados, que acontecerá em setembro. "É inadmissível não reagir com dureza", afirmou um dos dirigentes petistas.