Título: Relatório europeu prejudica MS
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Agronegócios, p. B13

A recuperação do status de área livre de febre aftosa pelo Mato Grosso do Sul, que será decidida no fim deste mês pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), está ameaçada por um relatório da Comissão Européia sobre os controles de saúde animal do Brasil.

Uma equipe da Direção-Geral de Saúde e Proteção do Consumidor, que visitou o país em novembro de 2007, dedicou três das 28 páginas de seu relatório a detalhes que poderiam prejudicar o Estado. Os europeus apontam que 22 das 118 fazendas que tiveram os animais sacrificados por causa do repique da aftosa, meses após o foco de outubro de 2005, "atendiam ao critério" da OIE para "notificar um foco" da doença.

As fazendas, afirmam, registraram amostras positivas de "proteínas não-estruturais" do vírus da aftosa, além de lesões compatíveis com a doença e ligações epidemiológicas com focos anteriores. Os testes foram conduzidos em três municípios do Estado - Eldorado, Japorã e Mundo Novo. Os europeus reclamam que o caso não foi comunicado à UE nem à OIE, apenas a estratégia de sacrifício dos animais.

O Mato Grosso do Sul está no Circuito Pecuário Leste, composto por Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe e Tocantins. Mas o governador André Puccinelli faz lobby para incluir seu Estado no Circuito Pecuário Centro-Oeste, com São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Goiás. Com isso, quer forçar a retomada do status em companhia de Estados considerados "menos problemáticos e mais avançados" em termos de controles sanitários. "A OIE tem técnicos bem preparados e sabe de quando é esse relatório. Eles analisam com mais profundidade esse tema do que uma missão da UE", rebateu o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz.

O relatório europeu aponta outros problemas na condução do processo em Mato Grosso do Sul. Segundo o documento, não foram introduzidos animais-sentinela nem tampouco definidos alvos para uma vigilância clínica ou visual depois do repovoamento das 118 fazendas.

Além disso, afirmam os veterinários, investigação em uma fazenda com 3 mil cabeças na área dos três municípios recebeu gado de uma outra propriedade cujos animais tiveram resultado positivo para a aftosa. Mesmo assim, afirmam, os animais foram "movimentados sem restrição". Em seguida, vários animais da fazenda receptora do gado foram encontrados com lesões compatíveis para a aftosa e a propriedade teve seu rebanho sacrificado.

Os europeus também asseveram que as restrições de trânsito dos foram levantadas nos municípios em 7 de novembro de 2007 pelo ministério mesmo com "alguns resultados" de isolamento do vírus pendentes.

O diretor de Saúde Animal do ministério, Jamil Gomes de Souza, comandou as ações federais no Estado e aponta confusão dos europeus no caso. "Houve falta de entendimento deles. Foi comunicado à OIE e UE, mas como estudo soroepidemiológico porque não caracterizava focos de aftosa", diz. "Quando escreveram isso, não tiveram cuidado de buscar as informações que já tínhamos dado na época, em janeiro de 2007".

E explicou as ações: "Mantivemos a área interditada e informamos que não poderíamos descartar a circulação viral e que aplicaríamos as ações. Não fizemos o estudo para identificar focos". Disse ter enviado "a tempo" as respostas. "Informamos a União Européia em nota técnica e contestamos por escrito. Na última visita [março de 2008], eles não voltaram a tocar no assunto e disseram que já tinham entendido a questão".