Título: Inflação já arranha Dilma
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 15/02/2011, Economia, p. 14

Pesquisas informais do Palácio do Planalto mostram que o aumento do custo de vida tira pontos da aprovação da presidente

A disparada da inflação que corrói o bolso do consumidor neste início de ano, especialmente os de baixa renda, já arranha a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Pesquisas informais encomendadas pelo Palácio do Planalto, referentes às duas últimas semanas, mostram que o aumento do custo de vida, sobretudo entre os mais pobres ¿ os eleitores de Dilma ¿, começaram a subtrair pontos na avaliação do desempenho do governo. A preocupação com os possíveis estragos à imagem presidencial tem levado assessores palacianos a fazerem alertas sobre o risco de carestia se intensificar e comprometer a política governamental. Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 0,83%, surpreendendo os analistas.

A aprovação da presidente pode ser ainda mais alvejada se ela for leniente com os preços dos alimentos, que têm influência pesada no orçamento dos pobres, pessoas com rendimentos mensais de até 2,5 salários mínimos e que foram fundamentais para levá-la ao comando do país. O preço das passagens de ônibus também ajudou a impactar negativamente a inflação. Para analistas, ainda não é o fim da lua de mel entre eleitores e presidente em início de mandato. Eles acreditam que foi apenas um sinal de alerta que se acendeu no Palácio do Planalto. Lembram que Dilma tem buscado apoio para elevar a taxa básica de juros e bancar a tesourada de R$ 50 bilhões no Orçamento.

A definição do novo salário mínimo deve jogar mais combustível na fogueira, já que os ganhos dos trabalhadores estão intimamente relacionados à popularidade presidencial. Fernando Henrique Cardoso, em sete dos seus oito anos de governo, enfrentou queda de popularidade quando não reajustou o mínimo. ¿Se o poder de compra da população supera as perdas inflacionarias, a imagem dos dirigentes tende a se manter em alta¿, explicou Ricardo Guedes, diretor do instituto de pesquisas Sensus. ¿É a estabilidade com ganhos que faz a popularidade.¿

Desgaste No mercado financeiro, depois de pouco mais de um mês de governo, a credibilidade do governo também já foi arranhada em função das estratégias de política monetária. O Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central, reflete o desgaste. As expectativas dos analistas para a inflação de 2011 pioraram pela 10ª vez consecutiva. Nesta semana, a projeção para o IPCA do ano chegou a 5,75% e, agora, até mesmo as estimativas para 2012 mudaram, deixando para trás o centro da meta, de 4,5%, e atingindo 4,7%.

A despeito do novo ciclo de aperto monetário iniciado em janeiro e do corte orçamentário para frear o consumo, o mercado continua cético quanto ao controle da inflação. ¿Vamos esperar como será o próximo ajuste na Selic para ver que direção o governo vai tomar¿, afirmou Eduardo Oliveira, operador da corretora Um Investimento.