Título: Fundo prevê queda do fluxo de capitais para países emergentes
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2008, Finanças, p. C12

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn: "Esta é uma crise financeira totalmente diferente das que experimentamos no passado" Países emergentes como o Brasil devem se preparar para uma redução acentuada nos fluxos de capital estrangeiro e um aumento nos custos de financiamento externo para suas empresas nos próximos meses, afirmou ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn.

Ele disse que a turbulência no sistema financeiro mundial já afeta de forma significativa as empresas dos países em desenvolvimento, tendo provocado "quase um colapso" no começo do ano em alguns mercados em que essas companhias conseguiam obter crédito em condições favoráveis no ano passado.

Dados compilados pelo Fundo e exibidos por Strauss-Kahn numa entrevista ontem indicam que empresas de países emergentes que lançaram títulos no exterior captaram menos de US$ 10 bilhões no primeiro trimestre deste ano.

No primeiro trimestre do ano passado, companhias desses mesmos países conseguiram 12 vezes mais.

O Fundo Monetário Internacional estima que o fluxo líquido de capital externo privado para os países emergentes atingirá US$ 331 bilhões neste ano, descontadas as remessas feitas pelas empresas para pagar juros e dívidas antigas. É pouco mais do que metade do fluxo do ano passado.

A América Latina deverá receber US$ 73 bilhões neste ano, em termos líquidos.

Países do Leste Europeu, que se endividaram muito antes que os problemas no mercado imobiliário americano começassem a contaminar o sistema financeiro, tendem a ser mais prejudicados pela retração dos investidores estrangeiros do que o Brasil, cuja dependência de capital externo diminuiu nos últimos tempos.

O Brasil acumulou US$ 195 bilhões em reservas nos últimos anos, aproveitando a valorização de suas matérias-primas e de outros produtos que o país exporta. Mas a valorização do real tem estimulado um crescimento expressivo das importações e deverá atirar a balança comercial brasileira no vermelho neste ano.

A contração do crédito nos mercados internacionais vai criar riscos para todos os países emergentes, disse Strauss-Kahn. "As consequências para essas economias não serão pequenas", afirmou. "Essa é uma das razões pelas quais não há descolamento, mesmo que haja algum atraso na transmissão da desaceleração do crescimento econômico."

As projeções do Fundo indicam que os países em desenvolvimento continuarão crescendo bem acima da média mundial neste e no próximo ano, embora num passo mais lento do que o observado nos últimos tempos, mas sugerem que eles sofrerão bastante com uma deterioração maior do cenário internacional.

Ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do mundo inteiro estarão neste fim de semana em Washington para avaliar os riscos criados pela troca de marcha da economia global, durante a reunião que o FMI e o Banco Mundial organizam todos os anos no início da primavera do Hemisfério Norte.

Strauss-Kahn disse ontem que a desaceleração da atividade nas economias avançadas e a alta dos preços dos alimentos e do petróleo criou novos dilemas para os governos, que precisarão avaliar a maneira mais adequada de lidar ao mesmo tempo com o risco de esfriamento de suas economias e a volta de intensas pressões inflacionárias.

"Estamos entre o gelo e o fogo", disse o diretor-gerente do Fundo. "A resposta não pode ser a mesma para todos, porque em algumas partes do mundo o risco de desaceleração da economia é maior e em outras o risco da inflação é maior."

A preocupação com os preços é dominante hoje no Brasil, que neste ano deve crescer 4,8%, segundo o Fundo.

Strauss-Kahn disse que o FMI ainda está tentando entender direito as consequências da crise iniciada no mercado imobiliário americano e os mecanismos de transmissão dos problemas dos bancos para a economia real. "Esta é uma crise financeira totalmente diferente das crises que experimentamos no passado", afirmou o diretor do Fundo.