Título: Brasil prepara defesa ampla do etanol
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, Brasil, p. A5

Lula: produção de cana-de-açúcar no Brasil é compatível com a de alimentos Para enfrentar a onda de rejeição ao uso dos biocombustíveis na Europa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende montar um contra-ataque, sustentado principalmente por uma rede de informações maciça. A estratégia envolve não só órgãos governamentais, mas também empresários brasileiros do setor sucroalcooleiro, interessados em atrair investimentos europeus.

O usineiro Maurílio Biagi, um dos maiores do país e dirigente da Unica, que acompanhou Lula na viagem para a Holanda, diz que essa é uma luta de Davi contra Golias, "porque existe uma hipocrisia muito forte com relação ao etanol". "Nunca vamos ter uma estrutura para conseguir combater essa grande onda, que vem de uma hipocrisia muito forte. Nenhuma crítica é justificada. Nem a ambiental, nem a social, nem a econômica".

A Unica - a associação paulista do setor - já tem um escritório em Washington, trabalhando para difundir informações sobre o etanol e abriu recentemente um escritório em Bruxelas, onde funciona a Comissão Européia, para fazer essa ponte direta com os europeus.

"Deveríamos ter essa estratégia de informação junto à Comunidade Européia", defendeu o dirigente da Unica. "Hoje vivemos uma civilização do petróleo. Quando surge uma coisa nova, a reação é enorme. Somos o único país do mundo em que o consumidor pode chegar à bomba e escolher entre um combustível fóssil, que é a gasolina, ou renovável, que é o álcool. E normalmente opta pelo álcool, porque custa quase a metade. Nós conseguimos, com o combustível alternativo, concorrer com o fóssil, o que era inimaginável anos atrás."

A preocupação de Lula com a crescente resistência ao etanol na Europa esteve presente em todos os seus discursos e conversas na Holanda. Governo e empresários holandeses deixaram claro ao presidente brasileiro que o mercado europeu só se abrirá para o biocombustível se ele obtiver uma certificação de que sua produção é ecológica e socialmente correta. Lula pediu a colaboração dos holandeses para elaborar os critérios e formatar essa certificação.

Ao encerrar o seminário "Brasil-Países Baixos, Oportunidades de Negócios", Lula fez uma pregação das vantagens do etanol como fonte energética alternativa ao petróleo e convidou os holandeses a "renovar a aposta na cana e nos biocombustíveis brasileiros". Ele disse aos empresários que acusar a produção de biocombustíveis como responsável pelo aumento da inflação é "uma falácia, uma mentira deslavada". E repetiu à exaustão, ao governo holandês e aos investidores, que, no Brasil, é possível compatibilizar a produção da cana com a de alimento.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, voltou otimista da viagem porque, segundo ele, toda a resistência ao etanol resulta de desinformação. Ele recebeu a determinação do presidente de criar uma força-tarefa - com os ministérios do Meio Ambiente, Agricultura e Desenvolvimento Agrário - para montar essa estratégia de informação, que visa principalmente a convencer a opinião pública européia.