Título: PMDB é o principal parceiro do PT nas alianças municipais em negociação
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, Política, p. A7

O PMDB tornou-se o parceiro preferencial do PT. O número de alianças já desenhadas entre as duas siglas nas eleições municipais nas capitais supera as do PT com parceiros tradicionais no campo da esquerda, como o PSB e o PCdoB. Os dois partidos devem estar juntos em 11 das 26 capitais estaduais, em uma relação assimétrica: em sete delas - Rio, Fortaleza, São Paulo, Teresina, Maceió, Porto Velho e Vitória - é provável que o PMDB apóie o PT. Em apenas uma - Goiânia - há a possibilidade que o PT se alie a um candidato do PMDB. Os dois partidos deverão estar juntos para apoiar candidatos de outras siglas em três capitais: Belo Horizonte (Márcio Lacerda, PSB), João Pessoa (Ricardo Coutinho, PSB) e Aracaju (Edvaldo Nogueira, PCdoB).

O desequilíbrio pouco preocupa a direção nacional do PMDB, que empenhou-se com a cúpula petista em garantir a parceria na maioria dos casos. "Vamos ver se compensamos esta assimetria com apoios em grandes municípios. Em Minas, já fechamos em Juiz de Fora. Aqui em São Paulo, em Taubaté e São José do Rio Preto", disse o presidente nacional da sigla, deputado Michel Temer (SP).

As parcerias contudo já representam uma possibilidade do partido colocar-se como o aliado central do PT em 2010, neutralizando as chances de uma recomposição da frente de esquerda ou de uma aproximação entre petistas e tucanos em torno de Aécio Neves. É também um ganho concreto para o PMDB no presente. Há muitas eleições que o desempenho do partido é declinante nas capitais.

Em 1985, elegeu 19 prefeitos. Nas quatro eleições seguintes, oscilou entre quatro e cinco prefeitos eleitos por pleito. Em 2004, ganhou apenas em Campo Grande e Goiânia. Para tentar reverter o quadro, o primeiro movimento do PMDB foi cooptar prefeitos de outras siglas, como os de Salvador, João Henrique; Florianópolis, Dário Berger e Porto Alegre, José Fogaça. O segundo é a parceria com o PT, que recoloca o PMDB em cena como aliado preferencial em cidades onde o partido não tinha opções competitivas.

É o caso de São Paulo, por exemplo. O partido não disputa de maneira efetiva a capital paulista desde 1992, quando ficou em terceiro lugar com Aloysio Nunes Ferreira Filho. Nas duas últimas eleições, o PMDB só conseguiu estabelecer parcerias com candidatos pouco competitivos - forneceu o vice de Romeu Tuma, então no PFL, em 2000 e de Luiza Erundina, do PSB, em 2004 - Desta vez, é provável que apóie a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), presença praticamente garantida no segundo turno.

"O aumento destas parcerias mostra que forças políticas que antes prescindiam deste apoio hoje não prescindem mais", disse Temer, que relativiza o impacto destas alianças em 2010. "O PMDB sempre coloca a questão da candidatura própria em toda sucessão presidencial e desta vez não será diferente", disse Temer.

Tal como o PT, o PMDB também não tem um candidato presidencial natural, dado o desgaste político do ex-governador fluminense Anthony Garotinho e a conjunção de isolamento político e falta de densidade eleitoral do governador paranaense Roberto Requião e do senador pernambucano Jarbas Vasconcelos. Mas deixa a porta permanentemente aberta para o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). E é a aposta nesta alternativa que fez o PMDB nacional dar a sua aprovação ao pacto entre tucanos e petistas em Belo Horizonte em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB).

Diferente do que fez em eleições anteriores, a direção nacional do PT evitou interferir publicamente nos processos regionais e a aproximação entre o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), sem consulta às instâncias partidárias é apontada dentro da cúpula nacional do partido como o símbolo disso.

A aproximação irritou o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que ganhou a solidariedade da direção nacional da sigla. Mas Pimentel conseguiu eleger a maioria dos delegados no Diretório Municipal e o presidente decidiu não interferir, interessante em manter Aécio próximo da base governista.

A primeira diretriz adotada - com pouco sucesso - foi tentar uma aproximação com o PSB, para desarticular um bloco que dê sustentação em 2010 a uma candidatura de Ciro Gomes.

-------------------------------------------------------------------------------- Petistas e pemedebistas devem estar juntos em 11 das 26 capitais. Em sete, o candidato é petista --------------------------------------------------------------------------------

Com o PMDB, o resultado foi considerado satisfatório. Um dirigente nacional do PT lembra que em apenas três Estados os partidos serão antagonistas diretos, possíveis adversários em um segundo turno: Porto Alegre, onde José Fogaça (PMDB) disputa com Maria do Rosário (PT); Recife, entre Raul Henry (PMDB) e João da Costa (PT) e Campo Grande, entre Trad Filho (PMDB) e o PT, ainda dividido entre Pedro Teruel e Pedro Kemp.

Uma profusão de vice-prefeitos pemedebistas eleitos em chapas encabeçadas por petistas pode mudar o cenário eleitoral de 2010 de modo indireto. "Caso a Marta Suplicy ganhe a eleição em São Paulo tendo um vice do PMDB, será muito difícil que saia para disputar a presidência ou o governo do Estado em 2010 e ela sabe disso", comentou, sob reserva, um dirigente nacional do PT.

A possibilidade das aproximações regionais do PSDB e do PT em Minas Gerais, Sergipe e Bahia evoluírem para um articulação nacional tucano-petista que alije o PMDB da condição de fiel da balança em alianças é descartada por Temer. "O caso da Bahia e o de Sergipe são exclusivamente questões regionais e não haverá qualquer repercussão em 2010 na eleição presidencial", disse.

Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) é minoritário dentro do próprio partido e não concorda com a candidatura própria dos deputados Nelson Pellegrino e Walter Pinheiro. Por outro lado, a influência crescente do ministro do Desenvolvimento Regional, o pemedebista Geddel Vieira Lima, pode colocar em risco a continuidade petista na eleição estadual de 2010. A aliança branca do governador com o tucano Antonio Imbassahy enfraqueceria Geddel e seus rivais dentro do PT.

As pesquisas mostram um empate técnico entre o pemedebista João Henrique, Imbassahy, o deputado federal do DEM, ACM Neto, e o radialista Raimundo Varela (PRB). O PMDB contava com a conjunção das máquinas do município, do Estado e da União para fazer seu candidato decolar na capital da Bahia. Com a decisão do PT de oficializar candidatura própria, o primeiro movimento de Geddel foi o de retirar seu apoio à reeleição de Wagner, mas proclamar sua "fidelidade canina" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Frustrada a aliança em Salvador, a única possibilidade de o PT apoiar um pemedebista em uma capital é Goiânia, onde o prefeito Iris Rezende articula sua reeleição. A grande divisão da seção goiana, contudo, inibe a direção nacional do PT em agir. A tese da aliança com Iris foi aprovada por 116 delegados do Diretório Municipal, contra o voto de 115, que rpeferiam a candidatura própria. "Um resultado como este deixa o PT paralisado", comenta um dirigente nacional petista.

Partido com interesses acima de tudo regionais, o PMDB delegou a última palavra sobre a aliança a seus caciques estaduais. Foi o governador do Paraná, Roberto Requião, que bateu o martelo sobre a candidatura própria do PMDB à prefeitura de Curitiba, ao invés de apoiar a petista Gleisi Hoffmann, esposa do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Lançou o pouco conhecido reitor da Universidade Federal do Paraná, Moreira Júnior. Com a divisão entre PMDB e PT em Curitiba, imagina tornar mais factível um segundo turno contra o prefeito Beto Richa (PSDB), que aparece com maioria absoluta para se reeleger, nas pesquisas de intenção de voto.

A mesma lógica dos dois turnos fortaleceu o PT para negar ao PMDB o apoio em Belém. Na semana passada, foi batido o martelo em favor da candidatura própria do petista Mário Cardoso, como era o desejo da governadora Ana Júlia Carepa. A direção nacional, que trabalhava pela aliança, se convenceu que o apoio ao primo do ex-governador e deputado federal Jader Barbalho, condestável do PMDB, iria favorecer a uma vitória ainda no primeiro turno do prefeito Duciomar Costa (PTB), apoiado pelo PSDB.

Em Tocantins, o governador Marcelo Miranda (PMDB) apóia-se tanto no DEM quanto no PT no plano regional. Como a aliança PT-DEM, mesmo em nome de um terceiro candidato, é impossível, aumentou a chance do PMDB local ter candidato próprio e não apoiar a reeleição de Raul Filho (PT), segundo relatou o deputado Moisés Avelino (TO) , membro da Executiva Nacional

Nem sempre o veto a uma aliança parte do PMDB. "Chegamos a lançar a idéia de uma união das forças que apóiam o presidente na eleição de Cuiabá, mas a conversa com o PT é um diálogo de surdos e mudos", afirma o deputado Carlos Bezerra, que comanda o partido no Mato Grosso. O PT fará uma prévia entre os militantes Vicente Vuolo e Alencar Farina, em uma manobra que abre o campo para que o grupo do governador Blairo Maggi (PR) polarize a eleição com o prefeito tucano Wilson Santos. Esnobado pelo PT, o PMDB deve fechar uma aliança com o PSDB.