Título: Embraer ficará de fora da competição do Projeto FX
Autor: Nakamura , Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, Empresas, p. B8

A Embraer decidiu não participar da competição que vai definir a compra dos novos caças militares da Aeronáutica. O recém-retomado projeto FX prevê a modernização da frota da Força Aérea Brasileira, com a aquisição de até 12 caças. Fabricantes como a russa Sukhoi e a francesa Dassault Aviation já figuram entre os eventuais concorrentes.

Em 2002, quando houve a primeira tentativa do governo em adquirir os caças, a Embraer formou um consórcio com a Dassault para oferecer o modelo Mirage 2000. O processo acabou sendo suspenso. Na época, além do Mirage 2000, estavam na disputa o americano Lockheed Martin F-16A, o sueco Grippen JAS 39, os russos MIG 29 e o Sukhoi 27 e o Eurofighter 2000, da EADS.

A intenção da fabricante de jatos é se envolver no projeto só depois da decisão do modelo do novo caça. A transferência tecnológica deve ser uma das exigências do governo brasileiro para efetuar a compra. Dessa forma, a Embraer servirá como um veículo entre o governo e o consórcio vencedor, absorvendo tecnologia do fornecedor e auxiliando na instalação de armamentos e outros instrumentos de defesa, disse ao Valor o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado.

A nova versão do projeto FX poderá exigir investimentos próximos a US$ 1 bilhão. Segundo Curado, o Brasil não terá um projeto próprio de produção de um caça militar. "Hoje são poucos os países que reúnem uma cadeia completa de produção desses jatos, como os Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia", disse. Mas o executivo admitiu que será de "importância estratégica" deter tecnologia militar avançada via projetos como o FX.

Ao ficar de fora desse projeto, a Embraer concentra esforços para tirar do papel outro projeto: o do cargueiro militar C-390, baseado na plataforma do jato comercial Embraer 190. Para que ele, ganhe corpo, de acordo com Curado, é fundamental a chancela do governo, por meio de investimentos (são estimados R$ 800 milhões, equivalentes a dois terços do custo total) e a adoção do modelo em sua frota. "Sem o apoio governamental é praticamente impossível oferecer o produto a outros países", disse.

Pelo anteprojeto, o modelo será equipado com uma rampa traseira para facilitar o transporte de diversos tipos de carga, como veículos blindados. Poderá também ser usado para reabastecer outras aeronaves em vôo. O C-390 deve competir diretamente com o Hercules C 130J, produzido pela americana Lockheed Martin, e o C-275, da russa Alenia. O preço estimado do novo avião da Embraer é de cerca de US$ 50 milhões. Os concorrentes custam aproximadamente US$ 80 milhões. A empresa também participa de licitações mundiais com o avião de ataque leve Super Tucano, mas não quis revelar os países interessados.

No ano passado, o segmento de governo e defesa respondeu por R$ 650 milhões, o correspondente a 6,6% da receita líquida total da fabricante brasileira.