Título: Varig desiste de vôos longos ao exterior
Autor: Campassi , Roberta ; Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, Empresas, p. B2

Praticamente um ano depois de assumir a gestão da Varig, com planos de estabelecer a companhia no mercado internacional, a Gol anunciou que a subsidiária encerrará todos os vôos de longo curso ao exterior. Na sexta-feira, a notícia levou a queda de 3,6% nos papéis da empresa, para R$ 25,99 - um dos patamares mais baixos desde que a Gol abriu o capital.

A Varig deixa de voar para Cidade do México, Madri e Paris. Em março, a empresa cancelou os vôos para Frankfurt, Roma e Londres. Todos esses destinos foram incorporados à malha entre setembro de 2007 e janeiro deste ano, como parte de um esforço da Varig para obedecer os prazos impostos pela legislação do setor e poder manter a operação das rotas.

A Varig atribuiu a decisão de cancelar os vôos principalmente à alta do petróleo - superior a 60% na comparação com 2007. Além dos custos maiores, a empresa registra ocupações baixas e tem praticado tarifas mais baratas do que a concorrência, na tentativa de atrair clientes. Esses fatores juntos, aliado ao fato de que a empresa não tem acordos abrangentes com aéreas internacionais, tornaram as operações de longa distância insustentáveis. "É uma indicação negativa de que a recuperação da Varig não está indo bem e que a marca tem menos força do que se pensava", diz Caio Dias, analista do Santander. Para André Castellini, consultor da Bain & Company, que presta serviços à TAM, a suspensão dos vôos da Varig é um sinal positivo, à medida que a empresa vai estancar parte dos prejuízos.

O presidente do conselho de administração da Gol, Nenê Constantino, demonstrou otimismo com a recuperação da Varig e garantiu não estar arrependido com a compra da aérea. Questionado se os prejuízos acumulados pela aérea podem levá-lo a vender a subsidiária, ele deu uma longa risada e descartou taxativamente essa possibilidade. "(Não vamos) vender nada, só comprar", disse o empresário ao Valor, na abertura de um evento em comemoração dos dois anos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Segundo ele, os resultados positivos da Varig ainda "vão surgir". A Gol comprou a Varig em março de 2007.

Segundo Nenê, o cancelamento de vôos ao México e à Europa deveu-se à falta de bons aviões no mercado, para aluguel, e disse que "se Deus quiser" a companhia terá, no futuro, jatos 787 Dreamliner da Boeing. Atualmente, nos vôos mais longos, a Varig utiliza aviões 767-300 antigos, que consomem mais combustível do que jatos novos e têm pouco apelo junto aos clientes. Nenê também assegurou ter sido "abandonada" a idéia de fechamento de capital da Gol, que foi considerada no ano passado.

Fontes ligadas à companhia dizem que as perdas recentes também têm sido causadas pela demora do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em aprovar a unificação das operações da Gol e da Varig. Os executivos da empresa esperavam o aval do Cade até o fim de 2007, mas isso não aconteceu. O prazo projetado pelo grupo, agora, é julho deste ano. O surgimento de passivos imprevistos - como dívidas trabalhistas em aeroportos internacionais - ajudou a corroer a eficiência da aérea, segundo essas fontes.

Ainda não está certo o que a empresa fará com os aviões 767-300 (são cerca de 12). Após os cancelamentos dos vôos internacionais do mês de março, planejava-se colocar parte dessas aeronaves no mercado doméstico, operando vôos entre Manaus e Rio de Janeiro e São Paulo. A idéia era aproveitar os porões maiores dos 767 para transportar mais carga e compensar os custos. O plano está suspenso por hora, segundo a assessoria de imprensa, e alguns aviões devem ser devolvidos. Mas a Varig poderá precisar de alguns desses jatos se mantiver os planos de voar para Nova York no quarto trimestre.

A Varig informou que vai se concentrar nos mercados "onde possui vantagem competitiva", o doméstico e o sul-americano. Os dados, porém, sugerem que a empresa não tem operações lucrativas de forma geral.