Título: Pequenos papéis, grandes perdas
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, EU & Investimento, p. D1

A forte volatilidade da bolsa de valores tem deixado muitos investidores preocupados, mas alguns estão com o coração na mão. São os aplicadores de fundos "small caps", ou seja, de carteiras formadas por ações de menor liquidez negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, menos capitalizadas, em contraposição aos papéis de primeira linha ("blue chips", ou "large caps"). Essas ações normalmente são de empresas menores, mas com grande potencial de crescimento no longo prazo. Segundo estudo do site financeiro Fortuna, englobando as 52 semanas encerradas dia 4 último, os fundos "small caps" têm, de longe, o pior desempenho entre 12 categorias ativas de ações (excluindo fundos Petrobras e Vale e os indexados ao Ibovespa ou ao IBX). Os "small caps" perdem 0,37% no período, enquanto o pior desempenho entre as demais estratégias é o dos fundos de ações livres com alavancagem, que tiveram ganho médio de 19,72%.

Somente neste ano, as perdas médias dessas carteiras somam 13,34%, até o dia 9, conforme os números do Fortuna. Há, no entanto, fundos perdendo mais de 20%. No período, o Índice Bovespa apresenta queda de 0,64%. O Ibovespa, entretanto, não é o melhor referencial para os fundos "small caps", já que ele reúne as ações mais líquidas da bolsa e tem forte peso de Petrobras e Vale. A opção é o Índice Valor Bovespa de Ações de Segunda Linha (IVBX-2), composto por 50 papéis. No ano, até o dia 9, o IVBX-2 acumula queda de 1,96%. Já em 12 meses, as carteiras têm queda de 6,81%, em média, ante uma alta de 11,53% do IVBX-2 e de 35,48% do Ibovespa.

As perdas das "small caps" começaram no ano passado, depois do agravamento da crise dos papéis de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos (títulos chamados de "subprime") e dos temores com a recessão americana e seus impactos no mundo. Diante desse cenário, os investidores estrangeiros venderam suas ações a qualquer preço, a fim de migrar para ativos mais líquidos ou mais conservadores. Como as perspectivas lá fora não melhoraram, a aversão ao risco se mantém, o que significa que novas perdas podem ocorrer.

O problema é que boa parte desses papéis classificados como "small caps" é de empresas que abriram capital recentemente, e os estrangeiros ficaram, em média, com 75% dos IPOs (abertura de capital, em inglês), lembra Marcelo Pereira, sócio do escritório de aconselhamento financeiro TAG Investimentos. Quando eles venderam, alguns preços despencaram, muitos mais de 30% apenas no mês passado, chegando a valer menos do que no lançamento.

Algumas ações amargam no ano fortes perdas, puxando para baixo o retorno dos fundo. É o caso, por exemplo, dos setores de consumo e construção . Os papéis preferenciais (PN, sem voto) da Duratex, empresa que atua na fabricação de louças e metais sanitários e painéis de madeira, têm desvalorização de 27,29% no ano. No consumo, as PNs da Lojas Americanas perdem mais de 18%, enquanto as ordinárias (ON, com direito a voto) da B2W caem 15,60%. Em construção, Cyrela ON perde 14,74% e Gafisa ON, 9,31%.

A queda das ações de menor liquidez aconteceu no mundo todo por conta da redução do apetite de risco dos investidores, lembra Ronaldo Patah, diretor de renda variável da Unibanco Asset Management (UAM). "Mas, no caso do Brasil, houve também a alta continuada no preço das commodities, o que fez com que muitos trocassem os papéis de menor liquidez por Petrobras, Vale ou mesmo siderúrgicas", diz. Segundo os dados do Fortuna, o maior fundo desse tipo do banco, o Unibanco Small Cap, com R$ 174,9 milhões, perde no ano 14,79% até o dia 9.

Conforme os cálculos de Patah, o potencial de valorização para as ações de menor liquidez acompanhadas pelo executivo é de 75%, ante 23% para o Ibovespa. Em termos de lucros, o crescimento projetado para as empresas menores é de 42%, e de 20% para as companhias que compõem o Ibovespa.

A boa notícia é que as desvalorizações trouxeram oportunidades. O investidor precisa entender que a queda desses papéis não aconteceu porque os fundamentos das empresas pioraram, ressalta Paulo Clini, gestor da Legg Mason Asset Management. "Muitas continuam apresentando lucros recordes e a queda nas ações de segunda linha trouxe oportunidades", diz. Segundo ele, das empresas presentes na carteira do fundo da Legg Mason, há papéis com potencial de valorização acima de 100% e crescimento entre 40% e 50%. "Isso não quer dizer, no entanto, que tudo vai melhorar nesta semana, no mês que vem ou no próximo semestre, por isso, é preciso ter horizonte de longo prazo." No ano, o Legg Mason Small Cap acumula perda de 17,73% até o dia 9.

Os fundos que aplicam em empresas menores são indicados para os investidores que já aplicam em bolsa e procuram diversificação em algo que não tenha uma forte correlação com as ações que já possuem, diz Eduardo Favrin, diretor de renda variável da HSBC Investments. "As empresas de crescimento precisam de tempo para entregar resultados, pois isso é necessário ter visão de longo prazo, sem falar que muitas delas ainda são novatas na bolsa", avalia o executivo. O maior fundo "small cap" da gestora, o HSBC FI de Ações Small Caps perde no ano 24,43% até o dia 9, segundo o Fortuna.

Muitos IPOs no ano passado vieram com preços salgados e várias ações dessas empresas estão agora a níveis mais adequados, avalia Herculano Anibal Alves, superintendente executivo de renda variável da Bradesco Asset Management (Bram). "Para o investidor de fundo 'small cap', a recomendação é permanecer na aplicação, pois as companhias com resultados consistentes irão reagir", diz o executivo.

Para Pereira, da TAG, o horizonte de investimento num fundo "small cap" deve ser ainda maior do que numa carteira de ações tradicional. "De três a cinco anos, já que se trata da aplicação em empresas em fase de crescimento", diz. "São papéis de companhias que, com um bom gerenciamento, tendem a crescer mais do que as que compõem o Ibovespa, mais maduras."