Título: Oposição consegue convocar Dilma
Autor: Falcão , Márcio
Fonte: Valor Econômico, 14/04/2008, Pais, p. A3

A blindagem governista da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, falhou. Ontem, enquanto a base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva se preocupava em atacar os tucanos na CPI mista (com deputados e senadores) dos Cartões, os oposicionistas aplicaram uma manobra regimental na Comissão de Infra-Estrutura (CI) do Senado. PSDB e DEM convocaram a ministra para explicar a origem do dossiê que seria utilizado pelo governo para chantagear os oposicionistas na comissão.

Mas a pressão governista forçou o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), a retirar o pedido. Agora, Dilma vai ao Senado esclarecer questões ligadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A convocação da ministra na comissão foi arquitetada por Perillo, presidente da Comissão de Infra-estrutura. O tucano apresentou um adendo ao requerimento do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que convocava a ministra para dar explicações sobre a usina de Belo Monte e outras obras do PAC, permitindo que Dilma falasse à comissão sobre o suposto dossiê tucano. No momento da votação dos requerimentos, só estavam presentes na sessão cinco senadores da oposição.

Tropa de choque

Alertados por assessores, os governistas correram para a comissão, mas os documentos já estavam aprovados. Foi então que a tropa de choque do governo entrou em ação para tentar reverter à convocação de Dilma. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), teria ligado para o presidente Lula se comprometendo a resolver a situação. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), partiu para cima dos oposicionistas e reclamou da postura de Perillo. O líder peemedebista disse que não fazia sentido a comissão de infra-estrutura discutir questões dos cartões corporativos e chegou a pedir o cancelamento de todas as convocações. Jucá ameaçou levar a questão para ser discutida em plenário, onde o governo tem maioria, e acabou provocando a retirada do pedido.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi uma dos principais defensores de Dilma e acusou a oposição de provocar um embate político desmedido.

¿ Nós não vamos concordar com uma situação destas. Isto é uma insensatez. A oposição está criando uma situação que nós não sabemos onde vai parar. É preciso coerência ¿ disse Delcídio que foi ministro de Minas e Energia do governo Fernando Henrique.

Perillo justificou que recuou sobre o dossiê porque tem certeza de que a ministra será constrangida a falar sobre o episódio. Pelo Regimento do Senado, a ministra não é obrigada a abordar o tema, mas também não há restrições para que os senadores não façam questionamentos sobre o material.

¿ Tenho certeza que o dossiê vai estar presente na reunião ¿ disse Perillo.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), autor dos requerimentos de convocação de Dilma, rechaçou a idéia de que a convocação foi oportunismo e um ataque à possível candidatura de Dilma em 2010. Ribeiro disse que há 14 meses a comissão convidou Dilma para discutir sobre andamento das obras da Usina de Belo Monte.

¿ Não será possível colocar mordaça nos senadores para impedir que eles perguntem sobre assuntos que o governo não quer abordar. Foi o próprio governo que transformou o PAC em palanque político, ao lançar a candidatura de Dilma à sucessão do presidente Lula. Ela terá de se acostumar a debater temas políticos e o Senado é uma Casa de discussões essencialmente políticas ¿ argumentou Ribeiro.

De acordo com a Constituição, a ministra terá 30 dias para cumprir as duas convocações sob pena de incorrer em crime de responsabilidade.