Título: A missão espinhosa de Lupi
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2011, Política, p. 3

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, tentou convencer o PDT a votar a proposta do governo para o reajuste do salário mínimo. Ontem, ele dedicou o dia à tarefa de dissuadir os parlamentares da sigla a retroceder na intenção de aprovar o valor de R$ 560, articulado pelos sindicatos e por parte da oposição ¿ e que chegou a ser defendido pelo próprio Lupi antes de ser enquadrado pelo Palácio do Planalto. A tendência, no entanto, é que os pedetistas liberem a bancada.

A movimentação de Lupi teve início já na segunda-feira. Pela primeira vez desde o início do governo Dilma Rousseff, o ministro e presidente licenciado do PDT recebeu uma ligação direta da presidente, convocando-o para uma reunião, ocorrida na manhã de ontem. Prevendo o teor da conversa, o ministro agendou um encontro com os 26 deputados e quatro senadores do partido para logo depois da conversa com Dilma. Na reunião, a presidente cobrou fidelidade do ministro e ainda passou uma tarefa complicada a ele: convencer ao menos parte da bancada pedetista a não trair o governo na votação de hoje. ¿A presidenta defendeu os R$ 545, mas com muita generosidade e muito carinho¿, disse Lupi, depois da sabatina com Dilma.

Embora a conversa não tenha incluído ameaças diretas ao cargo de ministro, Lupi reuniu todos os parlamentares do partido para pedir apoio. Admitiu que estava em situação difícil, mas que não podia contrariar um pedido direto de Dilma ¿ afinal, não pode demonstrar falta de controle sobre a própria bancada. Ouviu dos deputados e senadores que a maioria da legenda não admitiria retroceder, e que praticamente todos estavam fechados com o valor de R$ 560. ¿Não tem como o Lupi impor o que os deputados não querem. Vamos liberar a bancada¿, anunciou o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).

Mesmo com a negativa, Lupi ainda disparou telefonemas a todos os parlamentares, tentando negociar o apoio dos correligionários. Depois de pressionar os partidos a fecharem questão e colocar sob ameaça de expulsão os dissidentes, o Planalto decidiu modificar a tática de negociação. Para os sindicalistas, a corda esticada pelo governo dificultou até mesmo a mudança de posição rumo ao mínimo defendido pela equipe econômica. Além de centrar a pressão sobre os ministros, a tática se baseou também em tentar reconstruir o canal com as centrais sindicais.

Sensibilidade Ao mesmo tempo em que Dilma e Lupi conversavam, Paulo Pereira da Silva encontrou-se com o interlocutor do governo junto aos movimentos sociais, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ex-sindicalista, Carvalho tentou sensibilizar o deputado paulista, que também é presidente da Força Sindical. ¿Ele pediu para que não tratássemos a questão como uma batalha final, pois o governo ainda estava no início e não era interessante cortar pontes¿, contou Paulinho da Força, como é conhecido. Na fila de discussões que o Planalto pretende abrir com as centrais, estão a recuperação salarial dos aposentados, o fator previdenciário e uma política de correção da tabela do Imposto de Renda.