Título: Fabricantes abrem unidade de reciclagem
Autor: Vieira , André
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2008, Empresas, p. B7

Gustavo Lorenção/Valor João Cesar Rando, da Campo Limpo: meta de buscar auto-sustentabilidade no sistema de destinação das embalagens Quando vendem defensivos agrícolas, eles brigam pela atenção do agricultor. Mas na hora de recolher as embalagens usadas no campo, eles se unem. Agora, como sócios.

Mais de três dezenas de fabricantes de defensivos agrícolas juntaram-se e tornaram-se acionistas de uma unidade de reciclagem e transformação de plásticos, a ser inaugurada, em maio, na cidade paulista de Taubaté.

A Campo Limpo Reciclagem e Transformação de Plásticos S.A., empresa criada no fim de fevereiro, pretende recolher as embalagens usadas de defensivos agrícolas, reciclá-las e, a partir daí, produzir novos artigos plásticos, incluindo vasilhames para a própria indústria de defensivos. Toda a receita obtida pela operação será revertida à própria empresa.

A Campo Limpo possui 31 acionistas, incluindo multinacionais como as alemãs Bayer e Basf, as americanas Dow Agroscience e DuPont, a anglo-suíça Syngenta, além de outros produtores nacionais e estrangeiros.

A empresa está concluindo um investimento de R$ 8 milhões na unidade de reciclagem em Taubaté, localizada perto da rodovia Carvalho Pinto, próximo a Via Dutra, com capacidade de processamento de 4,5 mil toneladas anuais de plásticos. Daqui a um ano, começa a operar uma fábrica de transformação de plásticos, que, ao ser concluída totalmente em 2011, terá recebido mais R$ 20 milhões. Serão gerados 40 postos de trabalho, prevendo dobrar o quadro em três anos.

"Hoje, o Brasil é líder na reciclagem com 95% do volume das embalagens primárias de defensivos recolhidas em 376 unidades e postos de recebimento espalhados pelo país", afirma o presidente da Campo Limpo, João Cesar Rando. O índice, segundo o executivo, é maior do que o encontrado em países como Alemanha (destinação final de 60% das embalagens), Austrália (50%), França (45%) e Estados Unidos (menos de 20%).

Esse material recolhido equivaleu a 21.129 toneladas em 2007, o que representou alta de 7,6% na comparação com o ano anterior . Hoje, esses vasilhames são vendidos a seis parceiros que reciclam o material, do qual cerca de 60% compõe-se de plásticos rígido (polietileno). Esses parceiros fabricam artigos como barricas de papelão, conduítes, caixas de passagem de fios elétricos, embalagem para óleo lubrificante e sacos plásticos para descarte de lixo.

Apesar do alto índice de destinação final das embalagens, o sistema é deficitário. Atualmente, 16% das despesas com o processo são cobertas. "A expectativa é que, em quatro a cinco anos, metade dos custos consigam ser cobertos", afirma Rando.

A meta é buscar a auto-sustentabilidade do sistema a longo prazo. Com a fábrica de plásticos, que será inaugurada no ano que vem, a Campo Limpo avalia que poderá capturar mais valor do material recolhido, produzindo novas embalagens.

"Não existe no mundo modelo igual a esse", diz Rando. A idéia nasceu do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), entidade sem fins lucrativos dirigida por Rando nos últimos seis anos. Rando, um engenheiro agrônomo, que trabalhou 28 anos na antiga empresa francesa Rhone Poulenc (Aventis), afirma que o objetivo da Campo Limpo é "fechar um ciclo na gestão de embalagens vazias."

Até o advento da Lei nº 9.974, de 2000, essas embalagens tinham um destino nada nobre: eram queimadas, enterradas, largadas na propriedade rural ou jogadas em rios. Por força da lei, as empresas montaram o sistema de destinação final das embalagens usadas de defensivos. Agora, também querem buscar o lucro neste negócio.