Título: Montadoras reclamam de custos do aço e greve da Receita
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/04/2008, Empresas, p. B8

A greve dos auditores da Receita Federal e a dificuldade de negociação de preços com os fornecedores começam a atrapalhar o clima de prosperidade na indústria automobilística. O setor espera um novo aumento no preço do aço, as montadoras de caminhões e máquinas reclamam da falta de pneus e os pequenos fornecedores têm dificuldades para acompanhar o crescimento da produção de veículos.

Os representantes do setor estimam que duas dezenas de empresas de autopeças chegaram a parar por conta da greve. Nas maiores empresas isso ainda não aconteceu, segundo confirmam os dirigentes de Usiparts, Sogefi e Bosch. Mas o quadro é de dificuldades. "Na última semana simplesmente não conseguimos trazer todas as peças, o que põe em risco a produção", afirma o vice-presidente da Bosch, Besaliel Botelho.

Algumas montadoras começaram a ameaçar os fornecedores com a importação, segundo conta o presidente da Delphi, Gábor Déak. Por outro lado, ele próprio diz que a Delphi começou também a importar alguns componentes que no mercado local apresentam condições menos competitivas.

A CNH começou a comprar pneus dos Estados Unidos e China porque, segundo afirma o diretor de suprimentos, Ricardo Ribeiro, porque a oferta na indústria local é insuficiente. "Temos recorrido ao mercado de reposição para abastecer as linhas", afirma o executivo.

Mas, em relação os pneus, o problema é o impasse nas negociações de preços. Segundo o presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip), Eugênio Deliberato, a indústria tem capacidade para produzir. Mas as montadoras não aceitam pagar a necessidade de ajustes de preços.

O diretor de compras da Volvo, Victor Barreto, diz que o problema de abastecimento começa a se estender também a outras peças, como forjados.

Botelho, da Bosch, diz que é um erro os fabricantes de veículos quererem "tirar proveito no curto prazo" em um cenário em que seria mais mais adequado cuidar da sustentabilidade do crescimento.

Há ainda receio de que a falta de investimentos nas empresas pequenas atrapalhe o ritmo da produção. A presidente da Booz Allen Hamilton, Leticia Costa, lembra que o nível médio de rentabilidade nas autopeças hoje está ao redor de 4%. "Isso significa que há empresas em situação desfavorável, o que pode representar riscos de gargalos", afirma. (MO)