Título: Vale falar com Deus e o diabo
Autor: Khodr, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 16/02/2011, Política, p. 5

Os representantes das principais forças sindicais do país uniram-se e foram ontem à Câmara dos Deputados para fortalecer as propostas de aumento do salário mínimo acima do valor apresentado pelo governo. Eles ser reuniram com o PSDB e o DEM, se encontraram com o senador Aécio Neves (PSDB) e participaram do debate no plenário da Casa. Centenas de militantes dos sindicatos acompanharam os líderes no corpo a corpo com os parlamentares.

Presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, recuou no valor inicialmente pleiteado ¿ de R$ 580 ¿ e apresentou a proposta de R$ 560. ¿Vamos continuar pressionando. Vamos falar com Deus e o diabo. Já fizemos uma ponderação e recuamos com o valor apresentado. Estamos convencidos de que precisamos reajustar o salário mínimo acima da inflação. Estamos aqui para fazer acordo por R$ 560. E estão fazendo um cavalo de batalha pelos R$ 545. São mais R$ 15 e, por dia, isso dá uma moeda de R$ 0,50¿, defende. Para facilitar a negociação com o governo, o parlamentar vai apresentar uma emenda que também prevê a antecipação, como reajuste, de 2,9% do que seria dado em 2012.

O presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), José Calixto Ramos, rebate o argumento utilizado pelo governo de que houve um acordo. ¿No protocolo de intenções de 2006, ficou firmada uma política de valorização do mínimo. Não estamos pedindo nada absurdo, apenas uma flexibilização¿, disse. Moacyr Roberto Tesch Aversvald, secretário-geral da Nova Central, não concorda com os argumentos apresentados para manter o aumento do mínimo em R$ 545, e defende que o valor chegue a R$ 580. ¿O aumento do mínimo não vai gerar inflação nem quebrar municípios. Ao se aumentar o salário mínimo, o mercado fica mais aquecido e ocorre o contrário¿, afirma.

Representante da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Canindé Pegado defende que seja mantido o ritmo de aumento do mínimo, como ocorreu nos últimos anos. ¿O governo tem que manter a curva de ascensão¿, disse. E completou: ¿Dos diferentes `Brasis¿ que existem dentro desse país, no Norte e no Nordeste, a economia gira em torno do salário mínimo. Não é o aumento dele que vai quebrar as prefeituras desses lugares, mas o clientelismo¿.

Arthur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), mantém a proposta de R$ 580 e defende também o reajuste da aposentadoria e da tabela do Imposto de Renda. Ele preferiu não participar dos encontros com os parlamentares da oposição, mas discursou no plenário da Câmara.