Título: Petrobras pode elevar investimentos no Brasil
Autor: Rosas*, Rafael ; eLeo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2008, Brasil, p. A3

A onda de novas descobertas de acumulações de hidrocarbonetos no litoral do Brasil, principalmente na faixa do pré-sal, pode levar a Petrobras a rever investimentos no país e, eventualmente, destinar mais recursos para suas operações brasileiras. De acordo com o diretor da área internacional da estatal, Jorge Zelada, a avaliação do portfólio da companhia é feita de "maneira integrada".

"Como tem recursos críticos sendo demandados mundialmente, a Petrobras tem que fazer uma avaliação e ver onde vai aplicá-los", ressaltou Zelada, durante entrevista coletiva. Pelo plano de investimentos da empresa, haverá investimentos de US$ 15 bilhões na área internacional entre 2008 e 2012, dos quais 70% em Exploração e Produção e outros 25% em refino.

Zelada evitou fazer comentários sobre o potencial do bloco BM-S-9, situado na bacia de Santos. Ontem, o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Haroldo Lima, indicou que a região poderia ter reservas de até 33 bilhões de barris de petróleo. Hoje, Zelada deixou claro que a Petrobras só se manifesta sobre as reservas e potenciais dos campos exploratórios após "algum resultado já concreto".

As declarações de Lima complicaram o dia do presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. "Estamos ainda perfurando", repetia ontem, constrangido toda vez que era abordado por jornalistas, empresários e autoridades, durante a sessão latino-americana do Forum Econômico Mundial, en Cancun, todos interessados em saber mais sobre as novas megajazidas de petróleo.

Gabrielli recebeu seguidos parabéns de participantes do Fórum, aos quais respondia com uma careta de desconforto. "Não tenho nada para confirmar, não temos dados", contestava. Na véspera, segundo fontes da Petrobras, gastou, irritado, parte da tarde em explicações, por telefone, aos órgãos reguladores das Bolsas de Valores no Brasil (CVM) e nos Estados Unidos (SEC), com quem se comprometeu a publicar a nota de explicações da empresa, divulgada ontem.

"Boatos sempre ocorrem no mercado. Cabe à empresa confirmar ou desmentir, como fizemos ontem", comentou, ao Valor para explicar por que não acredita que o incidente comprometa a imagem da empresa. "Essa movimentação nas bolsas é sinal de que o mercado está olhando muito a Petrobras; outra razão para termos de ser muito cuidadosos com o que dizemos", comentou, em uma crítica velada a Haroldo Lima, quando lhe perguntaram sobre os efeitos da suposta descoberta sobre o mercado acionário.

Além da valorização das ações da Petrobras, as ações das parceiras da estatal na Bacia de Santos também subiram ontem. As ações da portuguesa Galp Energia subiram 7,93% na Bolsa de Lisboa, enquanto a alta da Repsol-YPF foi de 9,28% na Bolsa de Madri, e as ações da Shell subiram 0,91% em Amsterdã.

A perfuração do poço no bloco de carioca está em três mil metros, e terá de avançar outros quatro para que a Petrobras possa avaliar o potencial da descoberta, insiste Gabrielli. "Estamos no meio do caminho, não dá para dizer a cor do olho da criança antes que ela nasça", comparou.

Gabrielli já era alvo de atenção no México pelas turbulências políticas provocadas pelo esforço do governo mexicano para permitir participação controlada de empresas privadas e estrangeiras na exploração, produção, refino e transporte de petróleo no país, hoje monopólio da estatal Pemex. Poucos dias antes do início do Fórum Econômico Mundial, em protesto contra o que acusam de ameaça à Pemex, senadores da oposição ocuparam o plenário do Senado mexicano, o que obrigou os governistas a realizarem sessões em locais alternativos.

"Temos interesse no México, mas o que poderemos fazer depende da decisão do povo mexicano", esquivou-se Gabrielli, quando lhe perguntaram sobre os planos de associação à Pemex. Na terça-feira, o presidente da Petrobras reuniu-se com executivos da estatal mexicana, autoridades e políticos para explicar a experiência da Petrobras com associações e parceiras na exploração de petróleo.