Título: Pacific Hydro aplica R$ 49 milhões em eólicas na Paraíba
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2008, Empresas, p. B6

A australiana Pacific Hydro inaugura nesta quinta-feira o seu primeiro empreendimento de energia eólica no Brasil. Com capacidade de 10,2 megawatts (MW), a usina, localizada no Estado da Paraíba, recebeu investimentos de R$ 49 milhões.

Segundo Mark Agar, o diretor-geral da multinacional no país, o desembarque na Paraíba é apenas o primeiro passo de uma estratégia maior que a companhia desenhou para o Brasil. "Nossa meta é termos empreendimentos que gerem 300 MW por aqui", conta o executivo ao Valor.

Controlada pelo fundo de pensão australiano IFM, a Pacific Hydro pretende gerar essa quantidade de energia no Brasil por meio principalmente de usinas eólicas, mas também deseja construir Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). O executivo afirma que hoje estuda projetos eólicos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Já em PCH, a prospecção australiana recai sobre Mato Grosso e Minas Gerais.

De todos os empreendimentos que são alvo de análises, os parques eólicos do Rio Grande do Norte estão no estágio mais avançado. Segundo Agar, a companhia pretende construir dois parques no estado, que juntos somam 150 MW. "O investimento necessário é próximo dos US$ 500 milhões e nossa idéia é começar a construí-los já no ano que vem", assegura o executivo.

Mas para tirá-los do papel, a Pacific Hydro precisará comercializar a energia dos dois empreendimentos no mercado livre ou vendê-los nos leilões do governo federal. Uma tarefa nada fácil para empreendimentos de fontes alternativas, como é o caso das eólicas. Isso, porque os pregões organizados pelo governo costumam estabelecer preços-teto próximos dos R$ 125 por megawatt/hora (MWh). E quase todos os empreendedores de fonte eólica costumam dizer que esse tipo de energia só é rentável quando o MWh é negociado por pelo menos R$ 180.

O diretor-geral da Pacific Hydro no Brasil afirma que conhece o cenário no país. Sabe, inclusive, que o governo federal não pretende realizar no curto prazo leilão algum de eólica. E reconhece ser difícil obter retorno de investimento nesse tipo de energia, quando se negocia o MWh pelo preço-teto tradicionalmente praticado nos pregões do governo federal. A usina da Paraíba só saiu do papel, porque o insumo foi negociado por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) do Ministério de Minas e Energia. De acordo com o programa, o megawatt é vendido por um prazo de 20 anos para a estatal Eletrobrás.

Ainda assim, Mark Agar assegura que inscreveu os seus projetos do Rio Grande do Norte no leilão A-3, que deverá ser realizado em meados deste ano. O leilão A-3 determina que os projetos negociados no pregão precisarão estar gerando energia em um prazo máximo de três anos.

"Estamos adequados ao leilão A-3. Mas também estamos dispostos a entender melhor o funcionamento do mercado livre no Brasil", conta Agar. Hoje, o mercado livre no país representa 26% do mercado total de energia.

Mas o desembarque do grupo australiano no país não se explica apenas por algum programa de incentivo às fontes alternativas. Reflete também a crescente demanda pelo insumo mundo afora. Segundo dados da Associação Mundial de Energia Eólica, a capacidade global instalada desse tipo de insumo cresceu 26,6% no ano passado, fechando em 93,8 mil MW. E a expectativa é que a geração mundial de energia eólica alcance 170 mil MW em 2010.

No Brasil, contudo, a fonte eólica tem posição tímida. Hoje, juntos, os parques eólicos são capazes de gerar 247,1 MW. E segundo a entidade global do insumo, com esta capacidade, o Brasil ocupa a 25ª posição de um ranking que engloba 74 nações.

Mas nas projeções mundiais da associação, certamente, estão computadas as iniciativas atuais da Pacific Hydro. Com uma capacidade geradora de 309 MW, o que inclui hidrelétricas e eólicas, o grupo australiano pretende adicionar à sua capacidade 1,8 mil MW. "Estamos construindo usinas na Austrália, Filipinas, Chile, Estados Unidos e Ilhas Fiji", conta Agar.