Título: Cenário é ruim, mas BNDES mantém a aposta no etanol
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2008, Agronegócios, p. B13

As apostas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no setor sucroalcooleiro continuam firmes, apesar do cenário de baixos preços para açúcar e álcool e da forte campanha internacional contra os biocombustíveis. O financiamento do banco para novos projetos de usinas, co-geração de energia e ampliação de plantas deve crescer pelo menos 20% este ano, para cerca de R$ 4,5 bilhões, e o BNDESPar analisa fazer sociedade com grupos sucroalcooleiros.

Atualmente, o BNDESPar, braço de participações do banco, é sócio da Santelisa Vale , de Sertãozinho (SP), e do grupo São Martinho, de Pradópolis (SP), e analisa várias outras propostas de parcerias com usinas. "O mercado de etanol é promissor e tem demanda", disse Paulo Faveret Filho, gerente de biocombustíveis do banco.

Segundo Faveret, o BNDESPar, que fomenta o mercado de capitais no Brasil, vê com interesse o setor sucroalcooleiro. "É um setor que precisa de capital", disse, observando, entretanto, que as participações do banco em empresas sempre são minoritárias e temporárias.

Um estudo elaborado por Faveret em parceria com Sérgio Silveira da Rosa e Artur Yabe Martinez, ambos também do departamento de biocombustíveis do banco, mostra que o cenário para o etanol, sobretudo no mercado interno, é crescente para os próximos anos. As fortes vendas de carros flexfuel devem continuar sustentando esse mercado. Atualmente, as vendas de carros flexfuel representam 90% do total de veículos comercializados no mercado interno.

O BNDES projeta um mercado firme para o combustível até 2010 e com taxas de crescimento de 10% ao ano até 2015. Para o mercado externo, aumento de 5% ao ano. A expectativa de demanda por álcool, numa estimativa mais conservadora, é de 34,5 bilhões de litros em 2015. Em um cenário mais otimista, chegaria a 43,7 bilhões de litros. Atualmente, está em torno de 15 bilhões de litros.

Em 2007, o BNDES desembolsou R$ 3,7 bilhões para o setor, dos quais 80% foram destinados para os projetos de usinas. O restante foi distribuído para projetos de co-geração de energia a partir do bagaço de cana e cultivo de cana. Em 2006, os desembolsos ficaram em R$ 1,986 bilhão. Em 2001, os financiamentos não alcançaram R$ 400 milhões.

Faveret acredita que o mercado de etanol deverá se manter aquecido nos próximos anos, o que justifica os novos projetos de usinas no país. "As empresas possuem uma visão de longo prazo, de olho na demanda futura", disse. Dados do setor indicam que há pelo menos 80 novos projetos de usinas em construção no país. Com a queda dos preços do açúcar, a partir de 2006, dezenas de novos projetos de usinas foram engavetados.