Título: Greve pode parar linhas de produção, diz setor automotivo
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2008, Brasil, p. A3

A greve dos auditores da Receita Federal completa um mês na sexta-feira e provoca prejuízos e muita irritação para os empresários das montadoras de veículos e das indústrias de autopeças. Há risco de paralisação das linhas de produção e até perda de contratos de fornecimento no exterior. "Estamos no limite. Não sei se o governo está sendo tolerante com os grevistas. Esse não é um movimento novo. Já aconteceu no ano passado e no anterior. Alguma coisa tem de ser feita para que a indústria possa ter horizonte de longo prazo. Não se admite greve anual", criticou Antonio Carlos Meduna, integrante do Conselho de Administração do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).

Meduna reuniu-se ontem com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, para levar as preocupações do setor. Também participou do encontro o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, informando que várias empresas vêm enfrentando aumento de custos de armazenagem, transporte e procedimentos industriais que têm de ser repetidos.

Para a Anfavea, o que mais preocupa é o risco de parar linhas de produção no Brasil e no exterior, o que significa perder contratos de fornecimento de peças, agregados e veículos nacionais prontos para outros mercados. "Esses clientes não vão esperar e buscarão produtos em outros lugares, substituindo itens brasileiros. Vamos perder presença no mercado internacional", lamentou.

O conselheiro do Sindipeças informou que as empresas do setor têm procurado, em alguns casos, contratar transporte aéreo para atender seus clientes no exterior, mas o custo é até quinze vezes maior que o do modal marítimo. O problema, segundo ele, é que 80% do tráfego de cargas aéreas está concentrado nos aeroportos paulistas de Viracopos e Guarulhos, o que também significa congestionamentos e perda de tempo. "Já há problemas localizados para atender à demanda e o setor vai acabar parando linhas nas montadoras", alertou.

Alternativa ainda mais cara, de acordo com o relato de Meduna, é a do frete "porta a porta" para cumprir contratos de clientes especiais. Nesse caso, o custo é 25 vezes maior que o do transporte por navio. Mesmo nessas condições, revelou que algumas indústrias de autopeças têm recorrido a esse expediente para não perder negócios no futuro.

Na avaliação do Sindipeças, as exportações já estão comprometidas porque a greve impede o uso racional dos contêineres e os armadores já falam em cobrar uma "taxa de greve" para compensar prejuízos. Alguns navios que teriam de atracar em Santos têm ido para Buenos Aires na esperança de poder deixar a carga contratada na volta.

Na visão de Meduna, há caos instalado nos portos e armazéns alfandegários. A greve provocou acúmulo de contêineres e isso dificulta a localização de cargas desembaraçadas. Nos casos de conferência física das mercadorias, perde-se dias para posicionar cargas. "Vamos trabalhar para não parar as linhas de montagem, mas não dá para dizer até quando. Nosso maior mercado de exportação é o dos Estados Unidos e eles não querem nem saber de greve", admitiu.

Segundo o Ministério do Planejamento, o salário no início da carreira de auditor é de R$ 7.376,91, o que representa aumento de 123,46% sobre o valor pago em 2002. No caso do topo da carreira, o salário é de R$ 13.382,26 o que significa crescimento de 81,41% sobre o que era recebido no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso.

A greve iniciada em 18 de março tem como principal reivindicação a equiparação dos salários dos auditores com os pagos aos delegados da Polícia Federal e procuradores federais da Advocacia Geral da União (AGU). Isso significa elevar o valor inicial a mais de R$ 14 mil e o do topo da carreira acima de R$ 19 mil.

Desde 2003, os auditores vêm fazendo greves. Naquele ano, ficaram parados de 29 de julho a 5 de setembro e também interromperam cinco vezes suas atividades por 48 horas e fizeram outros dois movimentos de 72 horas.

Em 2004, a greve dos auditores da Receita durou de 26 de abril a 21 de junho. Naquele ano, também deixaram de trabalhar por 96 horas em dois períodos: de 13 a 22 de abril e de 19 a 22 de abril. De setembro a novembro de 2005, fizeram nove paralisações em períodos que variaram de 48 a 96 horas. Em 2006, a categoria fez greve de 2 de maio a 6 de julho. Em 2007, a interrupção dos trabalhos foi menor e prejudicou o comércio exterior nos dias 8, 12 e 13 de novembro.