Título: Haroldo Lima, no passado, votou contra o fim do monopólio
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2008, Brasil, p. A6

Haroldo Lima, engenheiro que hoje comanda a Agência Nacional do Petróleo (ANP) - e provocou grande confusão no governo e no mercado acionário ao anunciar que um dos campos da Bacia de Santos possui reservas estimadas de 33 bilhões de barris de óleo e gás -, foi indicado para o cargo em 2003, após perder a eleição para o Senado, encerrando ciclo de cinco mandatos como deputado federal. O primeiro deles foi pelo PMDB e os demais pelo PC do B.

Lima, que votou contra a emenda constitucional nº 9 que abriu caminho para a quebra do monopólio da Petrobras no setor de petróleo, hoje explica que foi "crítico daquilo que iam fazer, que era abrir o mercado para depois privatizar a Petrobras". Segundo ele, o modelo criado com a lei 9.478 não era o desejado pela oposição na época, mas hoje, aos 69 anos, só vê vantagens no ambiente criado a partir da abertura do setor.

"Naquele momento eu não aquilatei o tamanho da vitória que nós tivemos. A Petrobras se tornou uma multinacional que hoje está presente em 27 países. E ela só está lá porque os outros podem vir para cá", disse Lima, em recente entrevista ao Valor.

Hoje, no meio empresarial, Lima é visto como um sujeito bonachão e boa-praça que "pouco entende" da indústria petrolífera. Por isso, sua afirmação, depois desmentida de forma não convincente, sobre as supostas reservas de 33 bilhões de barris de petróleo no campo Carioca, foram atribuídas por executivos do setor mais ao seu desconhecimento do que a má-fé. Uma das fontes ouvidas pelo Valor avalia que uma demonstração clara disso é o fato de Lima desconhecer publicações respeitáveis do setor, como o "Oil & Gas Journal" ou "Upstream", e baseou as informações que fizeram saltar as ações da Petrobras, Repsol, Galp e BG, no Brasil ou na Europa, em artigo publicado pela pouco conhecida "World Oil".

No livro que lançou recentemente - "Petróleo no Brasil - A Situação, o Modelo, a Política" -, ele conta que tinha planos de trabalhar na Petrobras ao sair da faculdade, o que não foi possível por causa de sua fama de ser "de esquerda". Lima então se voltou para o movimento sindical. Foi um dos dirigentes da Ação Popular Marxista Leninista , integrando a facção que, em 1972, migrou para o PC do B.

No livro, cujo lançamento foi adiado para incluir capítulo sobre o pré-sal, Lima relata palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) onde se decidiu retirar 41 blocos do pré-sal da 9ª Rodada de Licitações. Lula, segundo Lima, disse que "não passaria à história como o governante que tomou conhecimento de uma notícia daquela natureza e deixou tudo prosseguir como se nada tivesse acontecido". A notícia era a descoberta de Tupi, e a frase de Lula foi o suporte para a retirada dos 41 blocos.

No dia seguinte, em mensagem enviada para os funcionários da ANP, ele resumiu as informações dadas pela Petrobras, que naquela altura estavam nas páginas de todos os jornais. Em um dos parágrafos da mensagem, cuja cópia foi obtida pelo Valor, afirma que "as informações, se comprovadas, no todo ou em parte, poderão mudar o perfil petrolífero brasileiro".

E continua: "Nosso país poderá vir a dispor de reservas situadas entre as maiores do mundo. Essa notícia, pelo que tem de informação efetiva e pelo que desperta de expectativa auspiciosa, mesmo não comprovada ainda, foi recebida com muito entusiasmo por toda a gente brasileira. No mercado de ações, os títulos da Petrobras tiveram grande alta. A ANP, que regula o setor do petróleo no Brasil, que registra sempre com alegria as vitórias desse setor na economia brasileira, saudou efusivamente a notícia alvissareira", escreveu Lima. Ele finaliza lembrando que seria submetido a nova sabatina no Senado no dia 13 de novembro, para ser reconduzido ao cargo. "Agradeço aos que torcerem por mim", dizia.

Lima assumiu uma diretoria da ANP em novembro de 2003, quatro meses depois que o nome do ex-deputado federal Luiz Alfredo Salomão (PDT-RJ), primeiro indicado pelo governo para a vaga, foi rejeitado pelo Senado. O governo tentou depois indicar José Fantine, mas ele também não emplacou.

Em 2003, quando foi indicado para o primeiro mandato, Lima foi aprovado por maioria: 57 votos a favor e 12 contra. A agência era então presidida pelo embaixador Sebastião do Rêgo Barros. Sob fortes críticas de "apadrinhamento" político e contra posições "antimercado" anteriormente defendidas por ele, Lima tomou posse em janeiro de 2004 e em 2005 assumiu a direção-geral da agência reguladora como interino.

No cargo, ele sempre defendeu maior obediência do órgão regulador às diretrizes do governo. No ano passado criticou, em depoimento na Câmara dos Deputados, a condução das agências reguladoras no governo FHC, que segundo ele teriam muita autonomia, "porque o governo não exercia seu papel". Para ele, isso não acontece agora, porque o governo Lula "retomou o seu papel".