Título: Moksha8, a farma dos emergentes
Autor: Vieira , André
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2008, Empresas, p. B1

O laboratório Moksha8 escolheu o Brasil como primeiro campo de testes para transformar-se na primeira multinacional farmacêutica voltada exclusivamente aos mercados emergentes.

A empresa fechou acordo com a americana Pfizer e a suíça Roche para promover junto aos médicos e comercializar duas dezenas de medicamentos sem proteção de patente.

A lista inclui marcas famosas como o antibiótico Bactrim, o antidepressivo Zolof e o tranquilizante Lexotan, com vendas superiores a US$ 80 milhões no mercado brasileiro em 2007.

Numa segunda fase, a farmacêutica prevê lançar medicamentos biotecnológicos por meio de acordos em andamento com empresas americanas e européias, cujo objetivo é acelerar a entrada destes produtos no país.

Em até cinco anos, a Moksha8 espera descobrir os próprios medicamentos em formato de parceria com outras empresas. Se a estratégia der certo, o laboratório poderá ter fábrica própria, o que exigirá investimentos de até US$ 500 milhões.

"Temos uma visão única de focar nas economias emergentes, onde atuaremos a começar pelo Brasil", disse ao Valor o principal executivo mundial da Moksha8, o tanzaniano Simba Gill, de 41 anos. Além do Brasil, a empresa pretende atuar na China, Rússia, Índia, México, Coréia, entre outros

Filho de pais indianos, criado na Inglaterra, tendo morado em Dubai na adolescência, Gill, doutorado em medicina, trabalhou em grandes farmacêuticas, como a alemã Boehringer, e presidiu a americana Maxygen, fabricante de produtos biotecnológicos.

Simba Gill diz que a escolha pelos emergentes têm uma razão de ser: são mercados com grande crescimento de vendas, onde as grandes farmacêuticas costumam dar pouca atenção ou simplesmente ignorar.

Sobre o Brasil, ele avalia que o país dá sinais positivos e avança em pontos fundamentais para o negócio farmacêutico: possui uma boa agência de regulação sanitária, uma ampla rede de centros médicos e hospitais, uma moderna lei de propriedade intelectual e um sistema de compras governamentais sofisticado. "O Brasil está evoluindo nesta área."

Com esse modelo, Simba Gill conseguiu convencer o fundo americano de private equity Texas Pacific Group (TPG) e a Votorantim Novos Negócios a entrar no negócio como acionistas da Moksha8.

"Seremos sócios onde a Moksha8 quiser se desenvolver no resto do mundo", afirmou o diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, Fernando Reinach. "A intenção é ser 'one stop shop' nos mercados emergentes para as outras farmacêuticas dos EUA e da Europa ", disse ele, que se recusou a informar a fatia acionária do grupo e o valor do investimento na nova farmacêutica.

Para comandar a companhia na América Latina, a Moksha8 contratou o executivo Mário Grieco, ex-presidente da Bristol-Myers Squibb no Brasil. A empresa já possui cerca de 80 pessoas, dos quais mais de 70 fazem parte da força de vendas. O valor inicial do investimento para esta primeira fase não foi revelado.

"Vamos promover junto aos médicos o que praticamente não era mais realizado", explicou Grieco. "Há medicamentos com mais de 40, 50 anos no mercado. Neste período, houve uma evolução no conhecimento que vamos trazer aos médicos", disse.

Os primeiros medicamentos licenciados pela Roche e Pfizer à nova companhia fazem parte de quatro classes terapêuticas - sistema nervoso central, infectologia, metabolismo e cardiovascular.

As marcas continuam sendo de propriedade das empresas originais. Apenas a comercialização passará a ser exclusiva da nova companhia no Brasil.

Segundo o Valor apurou, a Moksha8 deve garantir um mínimo de vendas às donas das marcas. O que superar esse limite de receita será compartilhado pelas duas companhias.

O negócio é considerado inédito em âmbito global pela amplitude de medicamentos licenciados para terceiros pelas duas grandes farmacêuticas.

Para essas multinacionais, há uma clara tendência de declínio contínuo nas vendas destes produtos maduros, que sofrem a concorrência de genéricos. O foco maior destas multinacionais tem sido os medicamentos inovadores, protegidos por patentes, lançados prioritariamente nos EUA e Europa.

Inspirado na filosofia oriental, moksha significa um estado de auto-conhecimento e liberação. O número 8 é considerado, em países asiáticos, como a China, um algarismo da sorte. A sede mundial da farmacêutica fica em Hong Kong.