Título: CTC vai lançar inovações em açúcar e álcool
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2008, Agronegócios, p. B14

Depois de mais de dez anos debruçados em pesquisas, técnicos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP), vão colocar à disposição neste ano importantes inovações tecnológicas na área sucroalcooleira.

Entre os destaques, estão o sistema de produção do açúcar sem enxofre no seu processo industrial - o minério é utilizado para clarear o produto, de cor originalmente escura -, processo de lavagem a seco da cana, que elimina a água da primeira etapa industrial do açúcar e álcool, e avanços em biotecnologia, com a seleção de variedades de cana adequadas a cada região do país.

Com uma verba anual de R$ 40 milhões, quase o dobro dos recursos disponíveis em agosto de 2004, quando o centro tecnológico atuava sob o comando da Copersucar, o CTC está em processo de obtenção de patentes de suas atuais inovações. Vale lembrar que os recursos em caixa do CTC são irrisórios, se comparados com a verba de US$ 1 bilhão (anual) despendida pelos EUA em pesquisas na área de etanol de segunda geração.

Segundo Tadeu Andrade, diretor-executivo do CTC, o centro tecnológico, com seu QG localizado em Piracicaba (SP), vai instalar uma planta-piloto para produzir o açúcar sem enxofre. "O enxofre é utilizado na processo para clarear o açúcar à base de cana." O minério não faz parte do processo de produção de açúcar de beterraba, uma vez que o caldo extraído dessa planta é mais claro que o obtido da cana, explica Osmar Figueiredo Filho, diretor de mercado do CTC.

"Estamos nos antecipando a possíveis questionamentos de países importadores, que poderiam criar barreiras técnicas para o produto brasileiro", diz Andrade.

Com um apelo sustentável e que pode evitar eventuais barreiras não-tarifárias ao álcool e ao açúcar, a tecnologia de lavagem a seco da cana também estará disponível para usinas este ano. Quando chega em caminhões nas indústrias, toda a cana é lavada antes de ser processada. Para cada tonelada de cana, a usina gasta mil litros de água. "Desenvolvemos em parceria com o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) um sistema de ventilação a seco para limpar a cana [uma espécie de ventilador gigante]. Nesse processo, toda a terra e palha da cana são separadas", afirma Andrade. Assim, a terra volta para o campo e a palha é utilizada na queima para a geração de energia.

Detentor da tecnologia para cana transgênica há 13 anos, mas sem poder fazer testes por conta da restrição do CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), o CTC trabalha em pesquisas avançadas em biotecnologia, sem ser considerada transgenia. Nesse sentido, trabalha na identificação de lotes de materiais genéticos que têm mais chances de cruzamentos eficazes, com a possibilidade de desenvolver variedades de cana mais produtivas, resistentes a doenças e específicas para cada região produtora do país.

A partir do segundo semestre, o CTC vai colocar suas novas variedades no mercado. Desde que se tornou independente da Copersucar, a partir de agosto de 2004, o CTC lançou 15 novas variedades. Somadas as variedades antigas, somam quase 70 espalhadas em todo país. Atualmente, o centro de tecnológico tem 172 associados, entre usinas e fornecedores de cana.

As pesquisas em etanol celulósico também avançam. Em parceria com a dinamarquesa Novozymes, instalará uma planta-piloto para a produção do combustível em 2009.