Título: Decisão do BC aumenta a dívida em R$ 2,9 bilhões
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Fonte: Valor Econômico, 18/04/2008, Economia, p. A17

O aumento da taxa básica de juros anunciado quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) ¿ a Selic subiu de 11,25% para 11,75% ¿ terá um impacto de cerca de R$ 2,9 bilhões na dívida pública em 12 meses caso a taxa se mantenha neste nível. A informação é do secretário do Tesouro Nacional, Arno Hugo Augustin, que falou ontem a parlamentares na Comissão de Orçamento da Câmara.

O aumento dos juros encarece a dívida pública, pois parte dos títulos que estão na mão dos investidores (pouco mais de 20% do total) é corrigida pela taxa Selic. Augustin diz que os efeitos podem ser reduzidos caso o governo consiga diminuir o peso dos papéis corrigidos pela Selic na sua dívida.

Quarta-feira, o BC surpreendeu a maioria dos analistas do mercado financeiro ao aumentar a taxa Selic de 11,25% para 11,75% ao ano. A maioria dos economistas esperava um aumento menor, de 0,25 ponto percentual. O BC, no entanto, afirmou por meio de nota que optou por "realizar, de imediato, parte relevante do movimento da taxa básica de juros" para reduzir o risco inflacionário.

Como o mercado espera outras elevações da taxa, que poderia terminar o ano em 12,75% ao ano, o BC preferiu promover um aumento maior agora para evitar que a taxa suba mais no futuro.

Torcicolo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma brincadeira, ao comentar, em Belo Horizonte, o aumento da Selic. Em discurso durante visita a obras de urbanização na capital mineira, Lula, que está com o pescoço imobilizado por causa de um torcicolo, disse que não sabia se a origem do problema foi a "alta dos juros ou o massacre do Corinthians pelo Goiás", em jogo disputado quarta-feira.

No discurso, o presidente destacou que R$ 40 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são para obras de urbanização de favelas e afirmou que muita gente gostaria que os recursos do programa fossem destinados a outras ações e não para esgoto, luz elétrica e água potável.

Uma seqüência de aumentos da taxa básica de juros pode afetar a geração de emprego formal no país a partir do último trimestre do ano e interromper a seqüência de recordes que vêm sendo batidos desde o ano passado. Essa é a avaliação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

Após anunciar que o emprego com carteira assinada bateu novo recorde no primeiro trimestre deste ano, Lupi falou sobre o impacto do aumento da Selic sobre a sua área.

Ele manteve a previsão de um novo recorde na geração de empregos formais neste ano (1,8 milhão de postos de trabalho), mas disse que será mais difícil repetir o resultado em 2009.

¿ Se houver novos aumentos, pode haver impacto no final do ano ¿ disse.

Lupi disse que, do ponto de vista do emprego, os setores exportadores poderão ser os mais afetados, pois a alta dos juros ajudará a desvalorizar o dólar em relação ao real:

¿ A balança comercial tenderá a ter um resultado pior do que o registrado até agora.

O ministro também disse que o BC pode ter errado na sua avaliação em relação aos riscos inflacionários e considerou o aumento dos juros equivocado.

¿ Eu acho que é um erro de avaliação. Se você não tem ainda um aquecimento de 100% da indústria, você não tem essa geração da inflação ¿ diz Lupi.

Emprego

A contratação de trabalhadores com carteira assinada bateu novo recorde em março e no primeiro trimestre do ano. Segundo dados do Ministério do Trabalho, foram abertas 206.556 vagas em março, o que representa um aumento de 41% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram ainda que nos três primeiros meses do ano foram gerados 554.440 novos postos de trabalho, um aumento de 39% em relação ao primeiro trimestre de 2007. Assim, trata-se do melhor mês e do melhor primeiro trimestre da série histórica.

No mês passado, o setor da economia que mais gerou vagas foi o de serviços, com 89.072 novos postos. Em seguida veio a indústria de transformação, com 40.389 postos. A construção civil gerou 33.437 postos, e a agropecuária, 15.442.