Título: Com Aécio ao lado, Alencar defende a volta de um mineiro na Presidência
Autor: Jorge , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2008, Política, p. A10

Itamar com Aécio: críticas à política de juros e "saudades dos tempos em que Minas liderava e conduzia os destinos do país" O vice-presidente da República, José Alencar, praticamente lançou o nome do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), à sucessão presidencial de 2010. Em discurso realizado na manhã de ontem, em Ouro Preto, na solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, depois de defender o retorno de um mineiro ao Executivo Federal e conclamar o apoio incondicional do segundo maior colégio eleitoral do país a um eventual candidato do Estado na disputa pelo Palácio do Planalto, o vice-presidente não poupou elogios ao tucano. "Os brasileiros de todos os matizes acompanham e aprovam o trabalho desse jovem homem público responsável pelo governo, oriundo de famílias de que todos os brasileiros nos orgulhamos: a família Tancredo Neves e a família Tristão da Cunha". Alencar também voltou a repetir seu mantra contra os juros praticados no Brasil, comparando a política monetária conduzida pelo Banco Central à "derrama".

O vice-presidente, convidado por Aécio Neves para ser o orador oficial da solenidade, fez questão de lembrar que Juscelino Kubitschek foi o último mineiro a assumir a Presidência da República, há mais de meio século, deixando, com isso, "saudades dos tempos em que Minas liderava e conduzia os destinos do país". Segundo ele, esse sentimento "não reside apenas entre os mineiros, mas está presente no coração de cada brasileiro". Na seqüência, vieram os elogios ao governador tucano, arrancando aplausos dos presentes - três mil, de acordo com estimativas dos organizadores do evento.

José Alencar, que há poucos dias se mostrava contrariado por não ter sido consultado por Aécio Neves e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), nas negociações em torno de uma possível aliança para a sucessão municipal na capital, fez uma defesa enfática do governador. "Ele é jovem, porém de excepcional experiência comprovada quando presidiu brilhantemente a Câmara dos Deputados e agora como governador do Estado. É uma liderança incontestável nos universos dos poderes Legislativo e Executivo".

O vice-presidente prosseguiu dizendo que os eleitores de outros Estados também podem se engajar facilmente numa campanha em torno de um candidato de Minas Gerais. "Os brasileiros fazem questão de ressaltar o nosso Estado como celeiro de homens públicos capazes de demonstrar no exercício de seus mandatos o amor ao Brasil e o comportamento exemplar no trato da coisa pública. Depois do discurso, Alencar defendeu, em entrevista a jornalistas, a fidelidade incondicional de todos os mineiros a um candidato do Estado: "penso que os mineiros de um modo geral tem que estar intransigentemente ao lado de um candidato de Minas, desde que seja alguém capaz de representar Minas com honorabilidade", afirmou o vice-presidente.

O governador tucano também não deixou por menos e ressaltou, em seu discurso, a importância do Estado: "Onde houver Brasil estará a face e a honra de Minas. Sempre tivemos a consciência de que quanto mais mineiros formos, mais brasileiros seremos". Aécio, entretanto, buscou acentuar a idéia de composição, pregando a união das diversas vertentes partidárias em torno de um projeto comum para o país. "Nós não temos o direito de mobilizarmos nossas forças em torno de questões menores que em nada contribuem para a transformação da realidade de nossa gente. Somar forças, somar novos e largos caminhos por onde possa caminhar mais unida a nossa sociedade é um enorme desafio". Entre esses projetos estaria, segundo o governador tucano, um novo pacto federativo, em que encargos e receitas se distribuíssem de forma mais equitativa entre os entes central e subnacionais. "Ou refazemos a federação ou continuaremos a adiar os nossos sonhos por justiça, equilíbrio e paz", disse Aécio Neves.

Alencar voltou a criticar a política monetária conduzida pelo Banco Central, comparando as diretrizes seguidas pela instituição à "derrama": "Assim como ontem Tiradentes via sangrar de nossas Minas Gerais o ouro, vejo hoje nos bilhões e bilhões repassados ao sistema financeiro do mercado o seqüestro de nossas esperanças, o adiamento de nossas aspirações legítimas e urgentes". Segundo o vice-presidente, a taxa básica Selic praticada no Brasil (11,75%) é seis vezes superior à média mundial. "O Brasil é um país de Primeiro Mundo e não pode ser tratado dessa maneira", reclamou Alencar, defendendo uma taxa nominal de 5%, o que, pelas suas contas, resultaria em um patamar real de 1%.