Título: Fundos têm mais empresas disponíveis para investir
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2008, Finanças, p. C8

A grande aposta dos investidores para este ano são os fundos de private equity (que compram participação em empresas). Com o mercado de emissão de títulos e ações praticamente fechado, os gestores desses fundos terão uma ampla gama de empresas para aportar capital.

Nos últimos dois anos, grandes fundos como GP Investimentos, Advent e Gávea captaram mais de US$ 5 bilhões em recursos, estima José Olympio Pereira, diretor do Credit Suisse. "Nem tudo foi alocado ainda e novas captações devem acontecer neste ano".

Antes, quando um fundo de private equity chegava em uma empresa para sugerir aporte de recursos em troca de participação acionária, ouvia como resposta que um diretor de banco de investimento já havia passado por lá e sugerido uma abertura de capital muito mais vantajosa, brincou o diretor do Credit Suisse, durante o seminário "Mercado de Capitais: o cenário atual e desafios para o futuro", promovido pelo Ibmec-SP e pela Máquina Finance PR.

Segundo ele, a situação hoje é completamente diferente. Com a dificuldade de lançamento de ações, os fundos terão mais espaço para investir nessas companhia sem a concorrência do IPO. "É saudável a companhia passar por um período de adaptação."

Há vários casos de empresas que hoje são bem-sucedidas depois de passar por um período de sociedade com um fundo de private equity, como a ALL, a TAM e a GOL, citou José Olympio.

Ele fez questão de ressaltar, no entanto, que essa mudança não se dá por falta de capital. "As pessoas estão com a sensação de que o dinheiro acabou. Mas ainda há sobra de dinheiro. A restrição maior está no mercado de crédito." Apesar dessas dificuldades, ele se diz otimista. "A economia real vai muito bem e os retornos que temos das empresas são muito positivos."

Luiz Fernando Resende, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), acredita que a crise é passageira, mas que este ano não será dos melhores. "A sensação é de que perdemos o ano de 2008."

Maria Helena Santana, presidente da Comissão de Valores Mobiliário (CVM), destaca os avanços do mercado brasileiro, inclusive os ganhos do mercado secundário. A melhora da governança, por exemplo, tornou os investidores mais receptivos e viabilizou a saída de private equity por meio da listagem na bolsa. "Isso foi importante para a reciclagem das carteiras desses investidores."

José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Princeton, afirma que o mercado acionário brasileiro estava bastante atrasado e as empresas não tinham estruturas para se financiar. Quando o mercado se abriu, houve uma explosão de demanda e agora o processo deve acontecer de forma mais lenta. Entre 1995 e 2003, houve apenas nove acessos de empresas ao mercado de capitais. De 2004 até o fim do ano passado, o número pulou para 112.