Título: Palocci presidirá comissão que vai analisar projeto de reforma tributária
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2008, Política, p. A8

Foram escolhidos ontem o presidente e o relator da comissão especial a ser instalada na próxima semana para analisar a proposta de emenda à Constituição da reforma tributária. O PT sofreu uma derrota, pois pleiteava fortemente a relatoria. Diante da pressão de quatro partidos da base aliada - PR, PMDB, PTB e PP -, o PT viu-se obrigado a ceder o posto ao deputado Sandro Mabel (PR-GO).

O indicado pelo PT, deputado Antonio Palocci (SP), ficará com a presidência da comissão. A compensação amenizou a reação da bancada petista, que se sentiu contemplada. Se na semana passada o líder petista na Câmara, Maurício Rands (PE), defendia incisivamente o nome do ex-ministro da Fazenda para a relatoria, ontem o parlamentar adotou tom mais suave.

"O que sempre quisemos foi um posto na direção da comissão. A indicação do deputado Palocci para a presidência fará dele um articulador natural da proposta", disse Rands. O PMDB, mais uma vez, foi fundamental para as decisões da Câmara. O partido tem a maior bancada e teria a prerrogativa de escolher um posto.

De olho na eleição da presidência da Câmara - em fevereiro de 2009 e para a qual indicará o deputado Michel Temer (PMDB-SP) - o PMDB optou por apoiar a indicação de Sandro Mabel. No início das negociações sobre a chefia da comissão, o partido chegou a indicar Edinho Bez (PMDB-SC) para presidi-la.

Ao abrir mão de indicar um dos seus, o PMDB garante o apoio de PTB, PR e PP na disputa pela presidência da Câmara. "Eles sabem que nós somos bons de voto e cabos eleitorais muito fortes lá no plenário", disse o líder do PR, deputado Luciano Castro (RR), há uma semana.

Ontem, o parlamentar comemorava o resultado. "O PMDB foi muito importante neste processo", disse. E elogiou os escolhidos: "Mabel tem toda a experiência para o posto. É homem de fazer conta mesmo, sobre quem pode perder e quem pode ganhar. O deputado Palocci será o articulador natural".

Todos os líderes e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fizeram questão de ter todo o cuidado no tratamento a Bez. O deputado foi escolhido como vice-presidente da comissão.

Teria partido do próprio parlamentar a iniciativa de abrir mão de sua indicação. Além da vice-presidência, ele pode ser compensado futuramente.

Mabel recebia críticas dentro da base aliada por suas posições antigas sobre o sistema tributário nacional. Acusavam-no de defender a guerra fiscal. Ao Valor, o deputado negou. "Em 2003, durante a reforma tributária, eu defendia um período de transição entre o modelo atual e um novo modelo. Eu mantenho essa posição. O governo é que mudou de postura e, agora, dentro da reforma enviada ao Congresso, propõe uma transição na forma de cobrança do ICMS", explica.

Ao anunciar o relator da comissão especial, Chinaglia precisou defender os dois escolhidos. Questionado sobre a citação de Mabel durante as investigações sobre o mensalão, o presidente da Câmara protegeu o escolhido. "O deputado foi citado, mas absolvido por unanimidade no Conselho de Ética e no plenário".