Título: Lula defende Dilma e critica alta de juro
Autor: Jorge , Danilo
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2008, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou evento de divulgação de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) realizado ontem em Belo Horizonte para enviar pelo menos dois recados à oposição: que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, continua prestigiada no Planalto e que as viagens a Estados e municípios para promover as realizações de seu governo serão mantidas. "Entre ficar ouvindo eles (os adversários) falando de mim e abraçar o povo desse país, eu vou para a rua", disse Lula, em discurso realizado no canteiro das obras de urbanização da Vila São José, uma das comunidades mais pobres da capital mineira. Usando um colar cervical para amenizar as dores de um torcicolo, Lula também criticou a elevação da taxa de juros básica, decidida quarta-feira na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. "Eu não sei se (esse torcicolo) foi por causa do aumento dos juros ontem, ou se foi por causa do massacre que o Corinthians recebeu do Goiás", comentou o presidente.

A cerimônia de ontem era para vistoriar e contratar obras do PAC, mas se tornou também em ato de desagravo à Dilma. Coube ao prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), dar início à defesa da ministra. "Quero dizer em alto e bom som para que todos ouçam: nós confiamos na ministra Dilma e somos solidários a ela contra o vento da calúnia e a maré de intrigas que às vezes tenta impedir o trabalho de gente séria como a ministra e o presidente Lula", discursou Pimentel.

Em seu discurso, Pimentel, que tenta firmar aliança com o governador Aécio Neves (PSDB) na sucessão municipal deste ano na capital mineira, poupou os tucanos e concentrou as criticas, de forma velada, ao DEM. "Tem outras cidades no Brasil, capitais importantes, maiores que a nossa, em que o prefeito briga com o governador, briga com o presidente, briga com a população e o mosquito da dengue fica solto", acrescentou Pimentel, numa referência a Cesar Maia (DEM), prefeito do Rio.

Lula preferiu destacar o papel de Dilma à frente do PAC, classificado por ele como o programa que ajudará a fazer uma "reparação histórica" a favor dos pobres do país. "O PAC só está funcionando porque essa mulher certamente toma mais conta do PAC do que da própria filha", afirmou o presidente.

Lula voltou a defender o PAC, que muitos adversários acusam de ser um programa voltado a trazer dividendos eleitorais ao governo e aos seus aliados. "O que nós estamos fazendo aqui é uma reparação histórica. Tem muita gente que gostaria que o dinheiro do PAC fosse todo para outro lugar, mas grande parte do dinheiro do PAC é para construir as casas que faltam e melhorar as ruas das pessoas, para tratar do esgoto, para poder levar água potável e para poder levar luz e médico, porque eu nunca vi alguém rico ter morrido na porta do hospital à espera do médico", disse ele.

O presidente afirmou ainda que não deixará de percorrer o país nos próximos meses para promover as obras do PAC. "A minha oposição não gosta que eu ande. Ela fala que eu estou fazendo campanha. Eu não sou candidato, portanto não tem campanha", assinalou Lula.

Dilma, entretanto, cometeu uma gafe logo no início de seu discurso, qualificando a cerimônia de comício. "Quero dirigir uma palavra especial às mulheres que estão aqui na frente e hoje animam sem dúvida esse comício", disse ela, uma das cotadas a disputar a eleição presidencial de 2010. Abandonando a sua habitual forma de intervenção técnica, a ministra preferiu acentuar aquilo que pode ser considerado o "viés" social do PAC: "O PAC não é só investimento em estradas e energia. É investimento na veia das populações mais prejudicadas ao longo dos últimos 20 anos".

Depois da cerimônia em Belo Horizonte, o presidente e a sua comitiva participaram de outro ato em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Foram assinadas ordens de serviços para obras em oito cidades mineiras, somando investimento de R$ 536,2 milhões, mais a contratação de financiamento pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), de R$ 681,6 milhões. Acompanharam o presidente, além de Dilma e Pimentel, o vice-presidente José Alencar, os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Márcio Fortes (Cidades) e o vice-governador de Minas, Antônio Anastasia.